Como a indústria da moda explora agricultores na Índia

Como a indústria da moda explora agricultores na Índia

Publicado em:
11/7/2019
No items found.

Precisamos falar sobre o que está acontecendo com agricultores em plantações de algodão na Índia! Há pouco tempo, a Fe Cortez publicou sobre o Look do dia que é crime ambiental. Ela citou um dado que chocou MUITA gente:

a indústria da moda é responsável pela morte de 1 agricultor na Índia a cada 30 minutos. 

Você deve estar se perguntando: “como eu só estou sabendo desse índice bizarro de mortalidade agora?”

Pra começar, esse dado foi tirado de um documentário que a gente já indicou por aqui: “The True Cost” é um filme que conta as relações de produção e trabalho no mundo e os impactos causados pelo consumo fast fashion. Se você ainda não assistiu, corre pra ver, que ele tá disponível na Netflix. 

Agora, vamos conversar sobre o algodão. Esse é um dos materiais mais usados no mundo para a confecção de roupas. Por causa disso, 2,4% de todo o território agricultável do mundo é utilizado para a plantação de algodão. A prática dessa monocultura é tão forte que, segundo o Pesticide Action Network UK, 6% de todo o pesticida e 16% de todo o inseticida são utilizados para garantir a alta produção dessa matéria prima, incentivada pela alta demanda das indústrias de fast fashion. E é aí mesmo que mora o problema!

A Índia é o país que mais produz algodão no mundo. Segundo o United States of Agriculture Foreign Agricultural Service, só em 2017 foram produzidas mais de 6 milhões de toneladas! E isso existe dos agricultores longas jornadas, já que precisam semear, colher, limpar e transportar todo esse montante. 

O algodão colhido é colocado em várias bolsas, passa por um processo mecânico de descaroçamento e é processado até virar fardo. O próximo passo é levar a produção para as indústrias! Esse material é enviado para revendedores locais ou até de outros países.

60% de todo o algodão produzido no mundo é destinado para a fabricação de roupas e 75% dessa parcela é consumida por marcas europeias e norte-americanas.

Você já imaginou as consequências dessa produção exorbitante e que demanda tanto pesticida e insecticida para os trabalhadores? Esses agricultores podem desenvolver doenças respiratórias e outros problemas de saúde, causados pela exposição às toxinas, calor extremo e estresse físico. Mas o alto índice de mortalidade tem uma causa principal: suicídio. Segundo uma matéria, publicada pela CNN, na Índia um trabalhador da plantação de algodão tira a própria vida a cada 8 horas. Entre 2013 e 2015, mais de 11.772 pessoas cometeram autoextermínio. Isso dá cerca de 44 mortes POR DIA!

Essa onda de suicídios que o país enfrenta tem duas principais razões. Pra começar, a alta dosagem de pesticidas e inseticidas nas plantações possui efeitos colaterais. Muitos agricultores trabalham sem máscaras e com os pés descalços. Por causa disso, estudos associam a exposição a toxinas a doenças como a depressão. 

Além disso, o preço desses venenos e de sementes geneticamente modificadas só vem crescendo nos últimos anos, enquanto o preço do algodão está em queda. Em entrevista à CNN, agricultores indianos afirmam que o valor de 50kg da produção caiu pela metade!

A dificuldade econômica de sustentar a fazenda faz com que muitos agricultores fiquem endividados e até vão a falência.  A Lei de Aquisição de Terras, em vigor no país, facilita a tomada de propriedades por parte do governo. Esse é o segundo motivo que faz com que muitos trabalhadores, por perderem seu principal sustento, vejam como única alternativa tirar a própria vida. 

A legislação indiana também não deixa a vida das mulheres nada fácil. Como a produção de algodão é composta majoritariamente por homens, muitos mortos deixaram viúvas e famílias sem sustento. O governo, então, estabeleceu que essas mulheres têm direito a 100 mil rúpias, o equivalente a R$5.600,00, em compensação desde que a terra tenha sido registrada no nome do falecido que estava em dívida quando ele tirou sua vida e que há provas de que as despesas foram a causa de seu suicídio. Porém, segundo Vinod Kale, um produtor de algodão e chefe da aldeia de Kalamb, dos 37 casos em que trabalhou, apenas 3 foram bem sucedidos. 

Mesmo com todos esses problemas, 50% de toda a população da Índia está envolvida com a produção de algodão. Esse mercado representa 18% do PIB do país. Isso porque a demanda por esse tecido é muuuuito grande. E só é assim, porque a gente vive rodeada por empresas de fast fashion que estimulam o consumo compulsivo e, pior, muitas pessoas compram esse modelo econômico. 

Estima-se que em 2050, a venda de roupas vai chegar a 160 milhões de toneladas. Imagina quantos agricultores irão morrer pra que isso aconteça? Por isso, a gente precisa repensar os nossos hábitos de consumo e acabar com essa ideia de que temos que trocar de guarda-roupa a cada estação.  A nossa carteira tem MUITO poder de decisão e nós, como consumidores, temos o direito de exigir que as empresas de moda façam um trabalho sustentável, humanitário e social.


Thais Pitombo
Por:
topo
Gostou do texto?
Compartilhe nas redes sociais esse conteúdo que você acabou de ler e ajude a espalhar a mensagem!
Sobre o movimento

Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

Nossas redes
Editorias
Tags em destaque

Você também pode gostar:

Assine nossa Newsletter!

Receba conteúdos, notícias, promoções e novidades do Menos 1 Lixo direto na sua caixa de entrada!
Obrigado! Sua inscrição foi feita com sucesso!
Oops! Something went wrong while submitting the form.