Agosto vivenciou um dos dias mais simbólicos da história do Brasil: o Dia do Fogo, quando a sociedade civil acordou pro desmatamento na Amazônia, um patrimônio mundial, que pegava fogo há mais de 15 dias e que sofre com ocupação humana e com o desmatamento há alguns pares de décadas. O Menos 1 Lixo ficou de plantão e prontidão e foi lindo receber audiência de uma galera do Brasil todo que queria saber o que podia fazer pra ajudar a floresta. Fizemos um projeto lindo com a Karina Miotto, do Reconexão Amazônia, pra te contar 13 coisas que você pode fazer hoje pra preservar e cuidar de um dos biomas mais importantes do mundo.
Hoje estamos prestando atenção na floresta que abriga a maior biodiversidade do planeta e no seu desmatamento. Estamos entendendo que o governo, as grandes indústrias e o nosso modelo econômico são muito responsáveis pela destruição do que mantém o planeta respirando. Sempre foi assim? Há um tempo que a Amazônia é mira de quem só pensa em dinheiro e é tratada com descaso e desamor pelos governos brasileiros. Nunca paramos pra pensar em como viemos parar aqui (a gente sequer vê isso na escola), qual é a história da ocupação da floresta e como ela foi apropriada pelo agronegócio. E esse é o maior termômetro de que a Amazônia nunca foi protagonista pra sociedade civil como um todo. Mas isso precisa mudar. Vamos falar sobre essa história?
Bom, lá atrás, no século XV, a Amazônia era propriedade da Espanha, quando a América era dividida pelo Tratado de Tordesilhas, lembra dele? Mas os portugueses sempre ficaram de olho, pra proteger a floresta de invasores externos.
Em 1637, a primeira expedição pra Amazônia foi encomendada por Portugal e mais de 2 mil pessoas foram até lá, seduzidas pela exploração do cacau e da castanha. A mão de obra indígena foi substituída pela africana a partir do século XVIII e com o Tratado de Madri, que substituiu o Tratado de Tordesilhas, Portugal passou a ter direito às terras do Norte do Brasil.
E a Revolução Industrial veio com tudo. Como a matriarca do progresso, a Inglaterra chegou chegando, brilhando os olhinhos quando percebeu que a floresta amazônica era terreno de uma das matérias-primas mais importantes pro contexto do final do século XVIII e início do século XIX: a borracha. A extração do látex se transformou em uma atividade extremamente lucrativa e a borracha ocupou as indústrias dos centros produtivos do mundo, como a Europa e a América do Norte. E isso atraiu pessoas do mundo todo, mas especialmente nordestinos, focados no lucro e nos processos de extração na Amazônia. Era o tal do ouro negro.
E é nesse processo que a gente já entende como as coisas não mudaram tanto: quem tinha poder das terras dos seringais eram as famílias tradicionais da região, que lidavam com os ingleses. Era muito dinheiro! Mas já no iniciozinho do século XIX, a borracha começa a ser extraída também na Ásia e a Amazônia perde espaço de destaque, recebendo uma nova chance na Segunda Guerra Mundial, já que a região asiática estava envolvida no conflito.
O governo brasileiro se aliou ao estadunidense, que tinha muito interesse na borracha: os gringos investiam no Brasil e nós garantíamos a matéria-prima. Sabe aquele discurso de que estamos vendendo a Amazônia? Então, ele começa por aqui. Getúlio Vargas desenvolve a nossa Marcha para o Oeste, atraindo trabalhadores pra região, garantindo sucesso no acordo com os norte-americanos. Com o fim da guerra, o tratado acaba e a Amazônia recebe mais um ciclo de decadência. Getúlio resgatou o Plano de Valorização da Amazônia, e elaborou um projeto de lei para ele. Sancionada, ela “assegura a ocupação da Amazônia em um sentido brasileiro” e promove o “desenvolver a Amazônia em um sentido paralelo e complementar ao da economia brasileira”.
E chegamos na ditadura! Com o discurso de patriotismo afiado e com o objetivo de desenvolver a mentalidade do pertencimento, Castelo Branco inicia um ciclo de falas para unificação do Brasil. O lema “Integrar para não Entregar” permitiu a construção de obras rodoviárias e acesso mais fácil à Amazônia: a Transamazônica em 1972 e outras estradas foram inauguradas nessa década. A Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) garantia incentivos a quem fosse produzir por lá: como 50% de dedução de impostos, taxas federais, isenção de taxas para importação de máquinas e equipamentos.
E a invasão da indústria da pecuária na Amazônia se multiplicou. Esse anúncio da Sudam, da década de 1970, deixa clara a imagem da floresta como um grande pasto a ser apropriado. O texto diz:
"Na Amazônia, a terra é barata, e sua fazenda pode ter todo o pasto que os bois precisam. Sem frio ou estiagem queimando o capim, o gado fica bonito de janeiro a dezembro. E para ir para a Amazônia, você escolhe a ajuda que quiser. Com um projeto aprovado pela Sudam, sua empresa recebe os incentivos fiscais de milhares de empresas de todo o país. E com o financiamento agropecuário do Banco da Amazônia, você tem todo o apoio que precisa. É que a produção da região Norte é muito menor do que seu consumo. E, quando essa produção alcançar 1 milhão de cabeças por ano, em 1975, você terá o mercado nordestino ali pertinho, à sua espera. (...) É por isso tudo que mais de 250 empresas agropecuárias já estão se instalando na Amazônia."
Em 1976, o governo brasileiro faz a primeira regularização de terras na região amazônica: propriedades de até 60 mil hectares poderiam ser regularizadas se adquiridas irregularmente, mas com boa fé. E é a partir da década de 1970/1980 que o desmatamento começa a ficar claro pra todo mundo e as discussões sobre a sustentabilidade e o meio ambiente começam a surgir.
Em 1988, um dos maiores e mais importantes ambientalista da Amazônia, Chico Mendes, foi assassinado e o mundo passou a prestar mais atenção no que acontecia por aqui. Fruto disso foi a Rio Eco-92 que colocou a questão ambiental nas pautas internacionais.
Bom, não muito bem.
Se em 1970, 1% da Amazônia já tinha sido desmatada, hoje já são 20%. E ⅔ dessa área virou pasto: 80% da área desmatada ilegalmente é da pecuária.
Em 2004, a Amazônia perdeu, em 1 ano, o equivalente a uma Bélgica inteira.
Em 2019, a floresta amazônica virou pauta e ela precisa permanecer em destaque. Que legado vamos deixar pro planeta? Pros nossos filhos e netos? Pra toda biodiversidade e natureza que nos mantém vivos? Que retribuição é essa que estamos estimulando? Ainda dá tempo e, se somos parte do problema, também somos parte da solução. Somos agentes de regeneração. E potentes, viu?
A história da destruição da floresta não é de hoje, mas é sempre importante ter em mente que foi feita em prol do lucro, do dinheiro e com o aval dos governos, das indústrias, da pecuária e, claro, do capitalismo. No regime da ditadura, o discurso era de sedução pela proteção e apropriação do nacional. E nós precisamos ter cuidado com a volta dessa fala e ficarmos atentos: a Amazônia é do mundo e é dever e papel de todos a preservação e manutenção dela.
E se você acompanha sempre o movimento, já sabe que quem muda esse mindset somos nós, consumidores. Quem dita o mercado e quem investe nas indústrias que mais desmatam a Amazônia somos nós. E ninguém mais. Por isso, te convido a participar do movimento do #SetembroSemCarne e a repensar o seu e o nosso consumo da principal responsável pela destruição da floresta: a carne vermelha.
Você é a mudança. Vamos juntos?
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.