Desmatamento: a história da Amazônia

Desmatamento: a história da Amazônia

Publicado em:
3/9/2019
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Agosto vivenciou um dos dias mais simbólicos da história do Brasil: o Dia do Fogo, quando a sociedade civil acordou pro desmatamento na Amazônia, um patrimônio mundial, que pegava fogo há mais de 15 dias e que sofre com ocupação humana e com o desmatamento há alguns pares de décadas. O Menos 1 Lixo ficou de plantão e prontidão e foi lindo receber audiência de uma galera do Brasil todo que queria saber o que podia fazer pra ajudar a floresta. Fizemos um projeto lindo com a Karina Miotto, do Reconexão Amazônia, pra te contar 13 coisas que você pode fazer hoje pra preservar e cuidar de um dos biomas mais importantes do mundo.

Hoje estamos prestando atenção na floresta que abriga a maior biodiversidade do planeta e no seu desmatamento. Estamos entendendo que o governo, as grandes indústrias e o nosso modelo econômico são muito responsáveis pela destruição do que mantém o planeta respirando. Sempre foi assim? Há um tempo que a Amazônia é mira de quem só pensa em dinheiro e é tratada com descaso e desamor pelos governos brasileiros. Nunca paramos pra pensar em como viemos parar aqui (a gente sequer vê isso na escola), qual é a história da ocupação da floresta e como ela foi apropriada pelo agronegócio. E esse é o maior termômetro de que a Amazônia nunca foi protagonista pra sociedade civil como um todo. Mas isso precisa mudar. Vamos falar sobre essa história?

Quando tudo era mato de verdade

Bom, lá atrás, no século XV, a Amazônia era propriedade da Espanha, quando a América era dividida pelo Tratado de Tordesilhas, lembra dele? Mas os portugueses sempre ficaram de olho, pra proteger a floresta de invasores externos.

Em 1637, a primeira expedição pra Amazônia foi encomendada por Portugal e mais de 2 mil pessoas foram até lá, seduzidas pela exploração do cacau e da castanha. A mão de obra indígena foi substituída pela africana a partir do século XVIII e com o Tratado de Madri, que substituiu o Tratado de Tordesilhas, Portugal passou a ter direito às terras do Norte do Brasil. 

Tempos Modernos

E a Revolução Industrial veio com tudo. Como a matriarca do progresso, a Inglaterra chegou chegando, brilhando os olhinhos quando percebeu que a floresta amazônica era terreno de uma das matérias-primas mais importantes pro contexto do final do século XVIII e início do século XIX: a borracha. A extração do látex se transformou em uma atividade extremamente lucrativa e a borracha ocupou as indústrias dos centros produtivos do mundo, como a Europa e a América do Norte. E isso atraiu pessoas do mundo todo, mas especialmente nordestinos, focados no lucro e nos processos de extração na Amazônia. Era o tal do ouro negro.

E é nesse processo que a gente já entende como as coisas não mudaram tanto: quem tinha poder das terras dos seringais eram as famílias tradicionais da região, que lidavam com os ingleses. Era muito dinheiro! Mas já no iniciozinho do século XIX, a borracha começa a ser extraída também na Ásia e a Amazônia perde espaço de destaque, recebendo uma nova chance na Segunda Guerra Mundial, já que a região asiática estava envolvida no conflito. 

Pintado pelo suíço Jean Pierre Gabloz em 1943.

A Amazônia estava à venda?

O governo brasileiro se aliou ao estadunidense, que tinha muito interesse na borracha: os gringos investiam no Brasil e nós garantíamos a matéria-prima. Sabe aquele discurso de que estamos vendendo a Amazônia? Então, ele começa por aqui. Getúlio Vargas desenvolve a nossa Marcha para o Oeste, atraindo trabalhadores pra região, garantindo sucesso no acordo com os norte-americanos. Com o fim da guerra, o tratado acaba e a Amazônia recebe mais um ciclo de decadência. Getúlio resgatou o Plano de Valorização da Amazônia, e elaborou um projeto de lei para ele. Sancionada, ela “assegura a ocupação da Amazônia em um sentido brasileiro” e promove o “desenvolver a Amazônia em um sentido paralelo e complementar ao da economia brasileira”

Cartaz pintado pelo suíço Jean Pierre Chabloz em 1943, veiculado pelo DIP, Departamento de Propaganda e Imprensa do governo Getúlio Vargas

Amazônia: ame-a ou deixe-a

E chegamos na ditadura! Com o discurso de patriotismo afiado e com o objetivo de desenvolver a mentalidade do pertencimento, Castelo Branco inicia um ciclo de falas para unificação do Brasil. O lema “Integrar para não Entregar” permitiu a construção de obras rodoviárias e acesso mais fácil à Amazônia: a Transamazônica em 1972 e outras estradas foram inauguradas nessa década. A Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) garantia incentivos a quem fosse produzir por lá: como 50% de dedução de impostos, taxas federais, isenção de taxas para importação de máquinas e equipamentos.  

E a invasão da indústria da pecuária na Amazônia se multiplicou. Esse anúncio da Sudam, da década de 1970, deixa clara a imagem da floresta como um grande pasto a ser apropriado. O texto diz:

"Na Amazônia, a terra é barata, e sua fazenda pode ter todo o pasto que os bois precisam. Sem frio ou estiagem queimando o capim, o gado fica bonito de janeiro a dezembro. E para ir para a Amazônia, você escolhe a ajuda que quiser. Com um projeto aprovado pela Sudam, sua empresa recebe os incentivos fiscais de milhares de empresas de todo o país. E com o financiamento agropecuário do Banco da Amazônia, você tem todo o apoio que precisa. É que a produção da região Norte é muito menor do que seu consumo. E, quando essa produção alcançar 1 milhão de cabeças por ano, em 1975, você terá o mercado nordestino ali pertinho, à sua espera. (...) É por isso tudo que mais de 250 empresas agropecuárias já estão se instalando na Amazônia."

Em 1976, o governo brasileiro faz a primeira regularização de terras na região amazônica: propriedades de até 60 mil hectares poderiam ser regularizadas se adquiridas irregularmente, mas com boa fé. E é a partir da década de 1970/1980 que o desmatamento começa a ficar claro pra todo mundo e as discussões sobre a sustentabilidade e o meio ambiente começam a surgir. 

Em 1988, um dos maiores e mais importantes ambientalista da Amazônia, Chico Mendes, foi assassinado e o mundo passou a prestar mais atenção no que acontecia por aqui. Fruto disso foi a Rio Eco-92 que colocou a questão ambiental nas pautas internacionais. 

E agora? Onde estamos?

Bom, não muito bem.

Se em 1970, 1% da Amazônia já tinha sido desmatada, hoje já são 20%. E ⅔ dessa área virou pasto: 80% da área desmatada ilegalmente é da pecuária.

Em 2004, a Amazônia perdeu, em 1 ano, o equivalente a uma Bélgica inteira.

Em 2019, a floresta amazônica virou pauta e ela precisa permanecer em destaque. Que legado vamos deixar pro planeta? Pros nossos filhos e netos? Pra toda biodiversidade e natureza que nos mantém vivos? Que retribuição é essa que estamos estimulando? Ainda dá tempo e, se somos parte do problema, também somos parte da solução. Somos agentes de regeneração. E potentes, viu?

A história da destruição da floresta não é de hoje, mas é sempre importante ter em mente que foi feita em prol do lucro, do dinheiro e com o aval dos governos, das indústrias, da pecuária e, claro, do capitalismo. No regime da ditadura, o discurso era de sedução pela proteção e apropriação do nacional. E nós precisamos ter cuidado com a volta dessa fala e ficarmos atentos: a Amazônia é do mundo e é dever e papel de todos a preservação e manutenção dela.

E se você acompanha sempre o movimento, já sabe que quem muda esse mindset somos nós, consumidores. Quem dita o mercado e quem investe nas indústrias que mais desmatam a Amazônia somos nós. E ninguém mais. Por isso, te convido a participar do movimento do #SetembroSemCarne e a repensar o seu e o nosso consumo da principal responsável pela destruição da floresta: a carne vermelha.

Você é a mudança. Vamos juntos?


Nina Marcucci
Por:
meio
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Sobre o movimento

Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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