A Fe Cortez me convidou pra fazer com ela o desafio de 1 Look Por Uma Semana, que a Lilian Pacce criou, e a história vocês já sabem né? E foi muito bacana esse exercício de usar a criatividade em cima de um mesmo look por 5 dias seguidos, até pra mim, que ajudo pessoas a encontrarem seu estilo pessoal todos os dias. E de pensar mais a fundo a relação entre o meu trabalho e o consumo consciente. Então vou contar pra vocês um pouquinho do que tenho aprendido com meus mais de 100 clientes homens e mulheres: uma roupa só será usada diversas vezes se tiver a ver com quem eles são, de onde vieram e para onde vão. E esse conjunto de variáveis produzem um serzinho que é tão, tão único, que a roupa não será usada se a gente levar em consideração somente a voz daquela revista dizendo “invista”. Aliás, a gente pode até investir, mas não vai usar. Já sabemos que consumir consciente envolve não só comprar o mínimo possível, mas também o que tem mão de obra e matéria prima bacana, né? Mas já ajuda muito se comprarmos aquilo que entendemos que vamos usar bastante pra evitar que tenhamos aquela sensação de “não tenho nada pra usar nessa joça de guarda-roupa” que vai nos levar pra loja de novo.
Então vou compartilhar aqui exercícios que podem nos orientar melhor sobre como identificar os elementos que compõe nosso estilo, que é aquele “quem somos, de onde viemos e pra onde vamos”. “Uau, Karina! Então você trouxe a solução dos nossos problemas?” Ah, eu queria muito, mas não! Vou dar só um empurrãozinho inicial, porque moda é um bichinho complexo. As psiquiatras e psicanalistas Catherine Joubert e Sarah Stern contam no livro “Dispa-me!” que sobre o nosso corpo, a roupa assume, aos nossos olhos, as cores dos nossos humores - tristeza, cansaço, alegria. Por isso que a roupa nunca parece a mesma no cabide ou nos nossos corpos. Então vai ter dia que a gente vai querer usar o vestido tubinho preto e no outro dia o vestido que lembra um saco de batata que nos abraça gostoso. Mas, saber que nem por decreto usaríamos um ou outro tipo de vestido, já é um adianto na nossa vida, mesmo que digam que é bom todo mundo ter um vestido tubinho preto. Ainda falando da lambança que é a moda, a gente busca na roupa um meio para o olhar e o desejo do outro! Então estamos nos comunicando o tempo todo com o que vestimos e suscetíveis ao julgamento do outro o tempo todo, não adianta. Pode parecer angustiante essa ideia, mas, se pensarmos bem, é catártico! Abre as portas para usarmos o que quisermos sem se importar com o que vão dizer porque, afinal, não conseguiremos agradar gregos e troianos! Pronto, cheguei finalmente no meu ponto: não precisamos usar o que “dita a moda” e comprar a cada nova coleção. O que ajuda também nessa busca de saber o que comprar é informação sobre nós mesmos! Conhecer e entender o próprio estilo é libertador, faz com que nos toleremos, respeitemos quem somos e, principalmente, nosso corpo do jeito que é ou do jeito que está. Ah… chegamos na questão mais delicada de 99% dos meus clientes. Vamos encarar: nunca estamos satisfeitos com o nosso corpo e provavelmente seguiremos assim pro resto da vida, né não? Que tal vestirmos bem ele já que é o que temos pra hoje? E mais importante: é o nosso corpo, diferente dos outros porque nenhum é igual ao outro mesmo e nossa coxa mais grossa ou mais fina não fará diferença na vida de ninguém.
Mas então vamos aos exercícios pra ajudar a descobrir nosso estilo? Lembrando que nosso estilo não é uma caixinha etiquetada, hein, tipo “hippie” ou “esportiva”. E o por que já discorremos aqui né, de repente mudamos de emprego, ou somos promovidos, ou temos filho e nossos gostos pessoais apontam para várias direções… Estilo é um conjunto de elementos que fazem seu olho brilhar durante um período! Então, meus amigos, o descobrimento do seu estilo não conseguirá ser feito em uma tarde de domingo porque o processo de autoconhecimento é eterno, mas pode começar em um!
- tecidos: mais molengas ou mais durinhos, mais rústicos ou mais tecnológicos, se tem rendas, se são mais lustrosos…
- formas: mais soltinhas ou mais justinhas, mais simples ou mais diferentonas, com babados, drapeados, recortes, pregas…
- cores: mais calmas ou mais alegronas, mais claras ou mais escuras
- estampas: maiores ou menos, se são floridas, geométricas, listradas, xadrez…
- acessórios: grandões ou mais delicados, de materiais rústicos ou modernosos, clássicos ou criativos… - sapatos: mais clássicos ou mais originais, em cores neutras ou coloridas…
Esse exercício não é fácil de fazer, mas é gostoso porque promove várias sacadas bacanas sobre a gente mesmo e que pode e deve continuar se continuarmos prestando atenção para como sentimos e o que gostamos em cada roupa que passa pela nossa pele e olhar. E aí sabe o que vai acontecer? Vai ser muito mais difícil sucumbir à próxima tendência ou comprinha de última hora. Nota da editora: pra quem se animou, vale ler o post da Luiza Sarmento sobre armário cápsula, se juntar as dicas da Lu com as da Ka, sai um bem bolado top! ;) * Karina Abud é consultora de estilo pessoal e resolve pepinos do guarda-roupa, consumo e auto-expressão de mulheres e homens sem frescura e direto ao ponto. No seu instagram se dedica a dar dicas de moda pelo ponto de vista do estilo pessoal e compras responsáveis de forma despretensiosa e divertida... afinal temos que nos vestir todo santo dia! Quer saber como funciona?
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.