Quando entramos em uma loja para comprar uma roupa nova, geralmente somos tomados por um milhão de estímulos diferentes: cheiro agradável, design inspirador, organização, roupas da última tendência, músicas animadas, cores e estampas atraentes. Tudo ali é tão bonito que, nessa imersão, a última coisa que passa na nossa cabeça é como, onde e por quem foram produzidas aquelas peças! Nós só queremos comprá-las e vesti-las.
Então pouco importa se aqueles tecidos vieram de Marte ou de uma cidade no interior da Índia, do outro lado do planeta. Pouco importa a situação de trabalho de milhares de pessoas envolvidas nesse processo de produção. Somos convencidos, pela indústria da moda, de que a origem das roupas simplesmente não precisa ser levada em consideração.
Mas a realidade é que, muito provavelmente, ao contrário da beleza que querem nos vender, por trás daquela blusa linda da vitrine há um processo de produção que passa longe de ser admirável - e talvez seja esse o motivo de a indústria fazer de tudo para esconder esse processo de nós, consumidores.
Isso porque a indústria da moda, hoje, acumula acusações de impactos socioambientais: extrema produção de lixo, extrativismo selvagem de recursos naturais, desrespeito e abuso de trabalhadores, consumo e poluição das águas. Tudo para manter o consumo e produção de roupas batendo recordes e mais recordes a cada ano.
É nesse contexto que pensarmos em soluções para essa indústria que, não por acaso, se tornou a segunda mais poluente do mundo, é mais do que urgente. E, nesse caminho, algumas alternativas têm se mostrado ótimas opções para cocriarmos um cenário mais ético e sustentável.
Cito, aqui, a importância da Moda Regenerativa e da Moda Circular; ambas, em conjunto, podem impulsionar a transição para uma moda que respeite os ecossistemas e todas as partes envolvidas nos processos da cadeia de produção.
A Moda Regenerativa é uma das maneiras de criar uma moda em harmonia com os ciclos da natureza. É uma perspectiva que exige mudança de práticas, de paradigmas e de nossa relação básica com a natureza, pois parte de uma visão sistêmica e decolonial dos processos, levando em conta os saberes ecológicos dos povos originários e comunidades locais.
Um exemplo de como isso pode ser aplicado à moda é por meio da cultura de algodão, que hoje não passa de mais uma commodity. É comum ouvirmos que, por uma roupa ser feita de algodão, ela é sustentável. Mas, infelizmente, só para se ter uma ideia, a indústria do algodão é a quarta que mais consome agrotóxico no Brasil.
Nesse sentido, um aspecto muito importante da perspectiva regenerativa é prezar por uma plantação que cuide e respeite o solo, os micro-organismos e as pessoas que ali trabalham. Por isso, busca-se educar agricultores na tentativa de diminuir o uso de fertilizantes, agrotóxicos e organismos geneticamente modificados. Em substituição, opta-se por biofertilizantes, rotação de culturas e a restauração de áreas degradadas, além de respeitar o contexto climático e geográfico de cada local.
A Moda Circular, por outro lado, que se baseia nos princípios da Economia Circular, também vem trazendo resultados positivos. O foco está em utilizar processos que ajudem a diminuir a enorme quantidade de lixo produzida durante toda a cadeia de produção. Como consequência, também pode haver uma diminuição na extração de recursos da terra.
Isso porque, na circularidade, utilizam-se processos como a remanufatura, em que peças de vestuário são feitas com tecidos recuperados, provenientes de resíduos pós-industriais ou pós-consumo, ou uma combinação de ambos.
A revenda, que vem sendo bastante citada nos últimos tempos – visível inclusive pelo aumento no número de brechós -, também é uma solução que ajuda a expandir o ciclo de vida de produtos têxteis e vestuário e, por isso, a gerar menos lixo têxtil.
Podemos dizer que integrar processos regenerativos e circulares são alternativas fundamentais na transição para uma indústria da moda mais responsável e justa. E nós, enquanto consumidores, temos o dever de exigir que as marcas e a indústria trabalhem incansavelmente para incluir a Moda Regenerativa e Circular em todas as suas etapas de produção. Queremos que as roupas sejam bonitas não só nas lojas, mas em todos os seus processos; e que o respeito ao solo e aos trabalhadores seja a regra, não a exceção.
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.