O despertar de uma economia do cuidar

O despertar de uma economia do cuidar

Publicado em:
17/6/2019
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Tentar mudar o mundo sem mudar a nossa mente é como tentar limpar o rosto sujo que vemos no espelho esfregando o vidro. (...) Se pretendemos ajudar a criar as condições que propiciam a paz e o bem-estar precisamos, antes de mais nada, refletir essas qualidades. (Para abrir o coração – treinamento para a paz, Chagdud Tulku)

Este é o primeiro texto da cuidadoria aqui nesse espaço do Menos 1 Lixo. Não poderíamos estar mais contentes. Conhecemos o pessoal da liderança do M1L na formação de líderes evolutivos da cuidadoria e podemos dizer com toda certeza que aprendemos muito com eles, foi uma troca linda! Olhar para um movimento com tanto propósito é algo muito inspirador, nos dá entusiasmo e a certeza de que estamos alinhados em nosso propósito: cuidar do mundo a partir das pessoas e das organizações.

Como assim? Quando olhamos para a história da humanidade fica muito claro que grandes avanços e transformações ocorrem quando as pessoas se organizam e trabalham em prol de um objetivo comum e em grupos (comunidades).

“Por milhares e milhares de anos, as pessoas viveram à beira da fome e com medo de pragas, sempre à mercê de uma seca ou de uma simples gripe. Então, de repente, quase do nada, a modernidade nos trouxe riqueza, saúde e expectativa de vida sem precedentes nos últimos dois séculos. E todo esse progresso extraordinário não veio de indivíduos agindo sozinhos, mas de pessoas que colaboraram em organizações:

• As grandes e pequenas empresas nas nossas economias de livre mercado criaram riqueza jamais vista no mundo ocidental, e elas estão atualmente tirando milhões de pessoas da pobreza na Índia, China, África e em outros lugares. Nós construímos cadeias de fornecimento incrivelmente intrincadas, que cada vez mais ligam seres humanos em relacionamentos que, sem dúvida, fazem mais pela paz entre as nações do que qualquer arranjo político jamais fez.

• Uma densa rede de organizações – centros de pesquisa, empresas farmacêuticas, hospitais, escolas médicas, empresas de seguros de saúde – tem resultado num sistema médico altamente sofisticado que teria sido impensável um século atrás. Ao longo do século passado, esta rede contribuiu para o aumento de quase 20 anos de expectativa de vida, em média, para um indivíduo nos Estados Unidos. A mortalidade infantil foi reduzida em 90% e a mortalidade materna em 99%. Antigos flagelos como poliomielite, lepra, varíola e tuberculose são, em sua maioria, parte dos livros de história, mesmo nos países mais pobres do mundo.

• No campo da educação, uma rede de escolas – creches, escolas de ensino fundamental e médio, faculdades e pós-graduação – tem estendido a educação, que há tempos era privilégio de muito poucos, para milhões de crianças e jovens. Nunca antes na história da humanidade existiu sistemas de educação pública gratuitos e disponíveis para cada criança. Os altos níveis de alfabetização que atingimos, ainda que hoje os desprezemos, não têm precedentes na história.

• Em todo o mundo, o setor sem fins lucrativos tem crescido de forma espetacular por várias décadas, criando postos de trabalho em um ritmo mais acelerado do que as empresas com fins lucrativos. Um número cada vez maior de pessoas doa tempo, energia e dinheiro em busca de propósitos que são importantes para eles e para o mundo.”


A colaboração permitiu inúmeros avanços, inclusive o desenvolvimento de tecnologias que possibilitam a automatização e sistematização de trabalhos humanos manuais e de inteligência artificial. A nossa capacidade intelectual está no auge. Então, por que ainda enfrentamos os mesmos problemas mundiais, revestidos de outros nomes?  Por que nessa corrida pelo desenvolvimento, focamos a atenção em resultados, tratamos tudo como máquina, nos esquecemos de uma peça fundamental: o ser humano?

Por mais que máquinas possam ocupar muitos trabalhos, por mais que a tecnologia hoje do mundo seja suficiente para que ninguém passe fome, isso não corresponde à realidade. Ao longo dos últimos séculos, criamos sistemas para maximizar a produtividade, e nesse caminho, nos esquecemos de aprender a escutar as reais necessidades do mundo, de compartilhar, de crescer junto.

E essa é justamente a tecnologia que queremos prestar atenção agora: a nossa humanidade, aquilo que nos conecta. Como funcionamos em rede? Como juntos, trazemos melhores resultados para todos e para o mundo?

Em vez disso, temos andado por aí como se estivéssemos de carro, em alta velocidade e, distraídos, olhamos para o celular e batemos o carro. E culpamos o fabricante do motor. Tá na hora de olhar para a pecinha atrás da máquina.


Pouco refletimos sobre as consequências de nossos atos de consumo, das nossas ações de cuidado com as emoções de outras pessoas, na nossa relação com o meio ambiente. Isso porque estamos, como humanidade, fechados dentro de nossa individualidade, enquanto tentamos entender as velozes mudanças do mundo.

O pensamento neoliberal da economia é crescer e tudo no modelo atual converge para isso. Um fim em si mesmo, que pouco olha para o “progredir”. E o que mundo precisa agora não é de crescimento. Já produzimos mais do que precisamos. Temos que pensar de maneira mais sistêmica e menos linear. O mundo carece de organizações que nossa façam desenvolver como espécie e como mundo, elas crescendo ou não.

Um duplo desafio de atender as necessidades humanas dentro dos nossos recursos naturais disponíveis que requer um novo modelo de progresso. Redefinir o conceito de crescimento. Focar na prosperidade e equilíbrio, nas fronteiras do cuidar social e ambiental.

Isso requer uma mudança de mentalidade em como pensamos nossos produtos e serviços, como escutamos as necessidades das pessoas e do mundo e onde encontramos o propósito e a abundância, que nos faz felizes e integrais, e capazes de seguir modelos de autogestão, agilidade e significado.

Se não temos alinhamento interno (propósito) com o mundo externo (o que produzimos), podemos experimentar crescimento, mas ficamos doentes. Um exemplo disso é que dados recentes apontam que 30% dos brasileiros sofrem de burn out (síndrome do trabalhador esgotado).

Ou seja, se queremos uma economia que nos permite ser saudáveis nas relações de e com o trabalho e progredir como humanidade e contexto de mundo, precisamos olhar para dentro. Para o que pensamos, para as motivações dos nossos atos, tanto individualmente (autoconhecimento) como em grupos (cultura organizacional).

O paralelo que se traça entre o mundo individual e a cultura organizacional tem fundamento em sua abordagem intrínseca: ambos tratam do sistema de crenças, medos, da motivação e da coerência interna. A estruturação do mundo interno vai impactar a qualidade das ações que se realizam no mundo externo (relações, comportamentos, desenvolvimento de redes, qualidade e direcionamento de produtos e serviços, inovação).

Por isso nosso propósito: cuidar do mundo a partir das pessoas e das organizações. Temos convicção plena e cases concretos de que as ações tomadas por pessoas e organizações que têm alinhamento entre o mundo interno e externo são abundantes, eficientes, trazem qualidade de vida aos empregados, melhoras ao entorno e cuidado com os recursos.

E essa possibilidade de, por meio das pessoas e das organizações, cuidar do mundo, nos inspirou em seguir um sonho, que não é só nosso, e que queremos compartilhar. A ECONOMIA DO CUIDAR <3

A economia do cuidar (caring economics) é um sistema econômico no qual o cuidado com as pessoas e com a natureza é a principal prioridade. É isso que vem ao encontro com o trecho do treinamento da paz que introduz este texto: acreditamos que organizações que são capazes de criar uma nova economia têm colaboradores que convergem intenções individuais com o chamado da organização, o que a organização entrega ao mundo. Eles sabem como ela se alinha à sua missão pessoal e contam com uma cultura organizacional que a sustenta.

Não estamos falando daqueles prêmios de sustentabilidade ou de índices Dow Jones. Não estamos falando de manter um discurso “do bem”, green washing, apenas nas aparências. Uma placa linda que dispõem os ‘valores e missão da empresa’, por mais incrível que seja, não tem o poder de influenciar no propósito ou pensamento de um colaborador. Nem de criar uma cultura de respeito e transparência, que possibilitam o realizar do propósito autêntico da organização (que se alinha a uma necessidade real do mundo).

É preciso conversa, acolhimento, carinho, cuidado e um tanto de vulnerabilidade. É preciso comunicação transparente, participação e alinhamento de propósito. Processos claros e autonomia. Percepção, resposta, confiança e liderança evolutiva.

A cuidadoria sabe que organizações que cuidam de seus funcionários e de sua cultura, que têm um olhar atento e vivo a escutar seu propósito, são as organizações que vão e estão mudando o mundo. Uma mudança, necessária e emergente, que vem de dentro para fora. Nisso, M1L, parabéns para vocês, por manterem tão viva esta causa universal (além de moderna, chique e linda) um propósito tão urgente, que já alcançou – e alcançará resultados dos mais lindos para esse mundo, impactando a todos nós positivamente!


Vamos juntos <3

“É hora de aumentar o grau de ambição e elevá-la mais ainda, porque o desafio da humanidade do século 21 é claro: satisfazer a necessidade de todos, dentro dos limites deste planeta vívido, único e extraordinário, para que nós e toda a natureza possamos prosperar”. (Kate Raworth – Oxford Economist)

Premissas da economia do cuidar:

  • Compaixão
  • Busca da felicidade como motivação essencial de todos os seres humanos
  • Visão de longo prazo
  • Cuidado integral com as pessoas e com a natureza
  • Cultivar as causas internas da felicidade e não as externas
  • Economia orientada prioritariamente ao bem comum (eco)
  • Dinheiro como meio e não como fim / estabelecer uma relação saudável com o dinheiro
  • A felicidade tem um de seus mais importantes fundamentos nas relações


Elaine Favero
Por:
fundo
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Sobre o movimento

Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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