Nós fomos no Acolheita, um mercado que surgiu da necessidade dos sócios de encontrarem comida de verdade, com qualidade e origem. Fomos conversar com o Bruno, um dos sócios do lugar, pra entender qual é a logística e a motivação de abrir um espaço tão único e apaixonante no coração de Botafogo, na zona sul do Rio. Bruno contou pra gente que não gosta de dizer que Acolheita é um mercadinho de orgânicos, porque o tema entrou na moda (aleluia!) e muitas empresas já se beneficiam dele pra produtos que não são saudáveis, como barrinhas de cereal ou suplementos. Os produtos, em sua maioria, são orgânicos, mas o mais importante é que são comida saudável, de verdade e agroecológica.
A gente briga pelo conceito de comida de verdade. Hoje, quando você vai no supermercado, a última coisa que se encontra é comida. E ninguém se preocupa com isso: a gente lê mais as tabelas nutricionais do que os ingredientes. A única informação é o preço, se a gente soubesse como foi feito, a gente não comprava.
Bruno ainda falou sobre a obsessão das pessoas pelas intolerâncias no século XXI, mas a gente ainda não falou, de verdade, sobre a contribuição da indústria nas doenças do presente. Estão alterando tanto a comida, que estamos ficando doentes. A Rita Lobo já falou sobre isso, no blog do Panelinha, como o pão que compramos hoje na padaria é uma mistura de um produto ultraprocessado e um processado.
Lembrando de como as coisas eram antigamente, a gente pensa que uma mercearia de bairro, tinha produtos de produtores a 50km de distância e, hoje, a comida atravessa oceanos quando isso sequer é questionado. Quem nunca comprou uma maçãzinha com um selo da Califórnia? O Brasil produz um milhão de toneladas de maçã por ano. Precisa mesmo?
A gente vive uma ilusão das frutas baratas e bonitas, disponíveis o ano todo
A gente precisa falar do queijo, não só do vegano. De como todas os laticínios são produzidos, o leite, os ovos… da nossa alienação em relação de onde vem a comida. Dos produtores. Bruno celebrou a rede de produtores da Acolheita e a intensidade do trabalho do pequeno produtor, extremamente desvalorizado na sociedade:
Eles não têm feriado, Natal, nada… trabalham com um risco imenso, estão muito suscetíveis e sem qualquer truque, como o veneno dos agrotóxicos.
E as paredes da loja celebram essa origem, com fotos de todos os produtores nos seus locais de trabalho e o Bruno super abriu um sorriso quando contou pra gente que as fotos não eram de banco de imagens, eram verdadeiras, com calor humano e carinho. Quem cuida da Acolheita visita periodicamente essa galera, um trabalho de conexão linda e que dá muita vontade de fazer parte. Cada foto tem o nome do produtor, do espaço de cada um, a certificação de orgânicos e a distância deles da loja. Faz parte do projeto ter produtores locais, com no máximo 400 km de distância, pra fomentar, claro, a economia do Rio e pra evitar grandes deslocamentos e o impacto disso pro planeta e pro produto.
E essa é uma parte importante do processo: não tem centro de distribuição. não tem intermediários. O Bruno lida diretamente com cada produtor, que entrega pessoalmente os produtos na loja de Botafogo. Eles são mais frescos e, claro, com um preço mais justo e direto. E é aí que a mágica ganha o diferencial: essa conexão permite um bate-papo sincero sobre toda a cadeia dos orgânicos, inclusive no pós venda pra loja, com a troca sobre o impacto dos plásticos descartáveis e de embalagens pra frutas e legumes que já são cobertos com as cascas e a melhor embalagem do mundo :)
Mas o Bruno contou que o maior desafio mesmo é o cliente, que ainda não entende a importância do projeto das embalagens. A galera do Acolheita incentiva que os clientes tragam seus potes, suas sacolas, claro, mas eles também disponibilizam sacolas de papel pra te emprestar. Inclusive, aceitam doações :) Mas fazparte do projeto ajudar na prática da autorresponsabilidade, ou seja, cada um é responsável pelo seu... sabe aquele ditado?
A gente não precisa de todo mundo fazendo tudo, mas que todo mundo faça um pouco
E a transparência vai além dos produtos, também passa pela sustentabilidade financeira da loja, com um balanço do mês que passou e com a sinceridade na hora do pagamento, estimulando a responsabilidade de quem compra e o ato político do consumo até o final da visita. Em um cantinho, do lado do caixa, a super xepa com produtos lindos e baratíssimos dão ar da graça. E, a loja é tão incrível que, quando a comida não aquece o coração dos consumidores, ela é doada para a Unidade de Reinserção Social (URS) Bia Bedran ali pertinho e/ou pro sopão de Botafogo.
E depois de todo esse amor, anunciamos uma parceria mensal e linda entre Acolheita e Menos 1 Lixo, pra gente conversar com transparência sobre alimentação, as nossas escolhas políticas e responsáveis na hora de comer e, claro, sobre as delícias de conhecer os ciclos da natureza. Vamos juntos?
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.