O que Marielle, o papel do indivíduo e Mares Limpos têm em comum

O que Marielle, o papel do indivíduo e Mares Limpos têm em comum

Publicado em:
8/3/2019
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Escrevo essa coluna num momento em que tenho pensado muito sobre o empoderamento do indivíduo e seu poder pra mudar a situação vigente no planeta. Desde 2017, sou Defensora da ONU para O Programa Mares Limpos no Brasil, um projeto que tem como objetivo resgatar os oceanos do que nós, seres humanos, fizemos com eles.

Pra quem não sabe, estima-se que haja mais de 8 bilhões de toneladas de plástico nos nossos mares. E isso afeta não só a vida marinha, mas também o nosso cotidiano de maneiras muito negativas (mesmo que você viva no interior do País e nunca tenha pisado no mar). Pra começar, os oceanos são responsáveis por metade do oxigênio que a gente respira, e, apesar de ser o lar de 80% das espécies do planeta, sabemos mais da lua do que dele.

Participei de duas conferências internacionais sobre o tema, o Fórum Mundial do Oceano, promovido pela revista The Economist e realizado em Playa del Carmen, no México, e a Conferência Internacional de Lixo Marinho, em San Diego nos EUA. Lá, entrevistei dezenas de pessoas: presidentes, chefes de governo, cientistas, ativistas e empresários e, o que mais ressoa no meu coração, é como o ser humano tem nas suas mãos o poder de mudar o mundo. Para o bem ou para o mal.

Ilustração por Meg Park



Uma das falas mais emocionantes da conferência foi a de Afroz Sha, um advogado indiano que, indignado com a quantidade de lixo na praia de Versova, em Mumbai, se comprometeu em limpar aquele local. Sem esperar a ajuda do governo, do chefe, de Deus ou sei lá quem, ele usou sua própria força pra mudar aquilo que nos incomoda. Há 136 semanas, Afroz tem feito todos os finais de semana (sim, todos os finais de semana), o que ele chama de encontro de amor com o oceano. E com isso já arrastou multidões – 12 mil pessoas pra ser mais exata – na que é considerada pela ONU Meio Ambiente como a maior limpeza de praia já realizada no mundo.

Ouvi também gente como a Melati, uma menina de 17 anos que, quando tinha 11, criou o movimento Bye Bye Plastic Bagspra banir as sacolas plásticas de Bali, ilha que nasceu e onde vive com sua família. A Melati foi inspirada pela escola, a Green School, a pensar fora da caixa e foi empoderada pra isso. Este ano, o governo da Indonésia se comprometeu a banir definitivamente as sacolinhas, já que o país com mais de 17 mil ilhas e o segundo que mais joga lixo no mar no mundo.

Ilustração Alex Nabaum



E no meio de dezenas de histórias como essas, acordei um dia com a notícia da morte de Marielle Franco, que tive a oportunidade de conhecer quando a entrevistei para a Virada Sustentável do Rio de Janeiro. Na época, conversei muito com ela sobre a visão da nossa câmara de vereadores sobre a preservação ambiental. E lembro dela me dizer que, apesar de uma visão atrasada e quase inexistente entre os políticos, ela via esse assunto como de suma importância e que, mesmo lutando sozinha, iria tentar colocar na pauta.

A luta dela era pela vida, assim como a minha, sob diferentes perspectivas. Não se enganem, a injustiça ambiental prejudica e prejudicará os mais pobres, tanto pessoas pessoas quanto países.

O que vejo depois dessa perda tão significativa para o nosso País – em um momento tão delicado no qual às vezes temos a impressão de que nadamos, nadamos e morremos em uma praia cheia de sacolinhas, copos e canudos –, é que toda e qualquer mudança e saída está nas nossas mãos. Nas mãos de pessoas que, durante muitas décadas, séculos eu diria, foram desencorajadas a pensar com suas próprias ideias, a agir com seu coração.

O patriarcado vem fazendo isso há séculos para garantir o controle e dominação das massas. Os empresários do século XXI seguem vendendo um estilo de vida prático, em que descartamos tudo e todos transformando o presente em passado que não importa mais e nosso lixo em um passivo que agora está nos matando. E de novo vemos a maior parte da população apática nas suas tarefas e selfies do dia a dia.

Está na hora da gente lembrar que basta um ou uma pra começar uma (r)evolução. A evolução em que o amor pauta as nossas decisões, e a nossa coragem, que significa agir com o coração, será a única saída para de fato a gente possa viver com mais igualdade. Que a Marielle, com sua energia e coragem que seguem presentes, possa nos inspirar a sermos o que viemos aqui pra ser: os líderes dos nossos destinos. Ninguém pode nos parar, afinal, não há nada mais poderoso que pessoas unidas por uma causa!

A Fe é idealizadora do Menos 1 Lixo, ativista ambiental, conselheira do GreenPeace Brasil e embaixadora da campanha Mares Limpos pela ONU Meio Ambiente
Fe Cortez
Por:
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Sobre o movimento

Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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