Ainda me lembro nos primeiros meses de descoberta do movimento Lixo Zero, logo que comecei a usar o coletor menstrual, do desejo de compartilhar com todas as mulheres a minha volta a experiência incrível que é se conhecer melhor e deixar de ter “nojo” de si mesma! Para minha surpresa, as “novidades” lixo zero que trazia nem sempre eram bem recebidas. Por um bom tempo fui a “maluca” da turma.
Costumo dizer que fui abençoada pelo “Lixo”. Além de me reconectar comigo mesma e com o planeta de uma forma integral, ele me aproximou de pessoas incríveis e tem me levado a lugares e situações totalmente novas. Meu nome é Nicole, sou de Florianópolis e, apesar de ter crescido abraçada pela natureza, sempre fui muito urbana, do tipo que gosta de praia “com conforto”. Por outro lado, as questões ambientais cotidianamente me atraíam, ainda que de forma “rasa”, como reciclar meu lixo e investir alguns reais a mais em produtos que se diziam “eco”. Mas nunca, de verdade, nunca poderia imaginar que um dia me consideraria uma “ativista ambiental”. Não foi um plano, foi paixão à primeira vista.
Ao ler pela primeira vez a expressão Lixo Zero meu coração de abriu em curiosidade, algo crescente e envolvente, à medida que pesquisava mais e mais sobre o assunto. Hoje, olhando pra trás fica bem claro o tanto de mulheres que me inspiraram e por meio das suas jornadas Lixo Zero passei a trilhar a minha. Pouquíssimos homens participaram deste processo.
Eu poderia explicar de forma bem teórica e conceitual, mas vou tentar fazer diferente. Sabe aquela história antiga da diferença entre o jogo de futebol dos meninos e o jogo de futebol das meninas? Bom, é claro que não é uma regra (e que bom que não é!), apenas um exemplo do que pode ser bem cotidiano. O jogo dos meninos tá rolando e a disputa está acirrada! Um dos meninos se machuca, cai no chão gemendo. Poucos ou nenhum garoto para pra acudi-lo. Talvez alguém grite: “Não foi nada!” e segue o jogo. Agora quem joga são as meninas. O jogo tá super divertido mas, também bastante competitivo. De repente, uma das meninas se machuca, caindo no chão com muita dor. Todas (ou quase todas) vão ao seu encontro. Forma-se um círculo em volta dela. Jogo parado.
Em geral, as mulheres possuem um forte instinto de inclusão, em especial se estão conectadas com o seu feminino selvagem, tão bem exposto por Clarissa Pinkola Estés, no livro “Mulheres que Correm com os Lobos”. A mulher tem um olhar holístico e gregário, com sua habilidade de “ver”, faz de tudo para não deixar ninguém de fora! Minha jornada com o Lixo Zero iniciou num momento difícil. Tinha acabado de passar por um puerpério complicado, retornado ao trabalho onde não me encaixava mais, e apesar de um marido super parceiro, sentia escorrer pelos meus dedos um período precioso e importantíssimo dos meus filhos, na época com 1 e 6 anos de idade.
Imersa neste contexto li que:
“Em apenas 40 anos, mais da metade da vida natural do planeta foi extinta.” (Relatório Planeta Vivo de 2014 do Fundo Mundial para a Natureza – WWF).
Oi? Como assim? Em qual planeta se daria o futuro dos meus filhos? Eu vivia um momento muito “mãe” e acredito que meu instinto materno, unido às informações que chegavam, por meio da minha busca curiosa, me despertaram de forma que não tinha outro caminho, se não, colocar a mão na massa. Seguindo o raciocínio, sempre tive a sensação de que “sustentabilidade” era um termo feminino. Não apenas gramaticalmente falando, mas no seu conceito mesmo. O que fez todo sentido quando li a definição deste termo pela Comissão Mundial Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento:
Sustentabilidade é um conceito ligado ao desenvolvimento que satisfaz as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazer as suas próprias necessidades.
Uau! Quem é que faz isso? As mulheres. Uma mulher coloca sua própria vida em risco ao gerar um filho. E sabe o que ela faz quando descobre que seus bebês não terão um planeta habitável para crescerem e seguirem seus propósitos? Bom, no meu caso, ao olhar à minha volta não havia ninguém, ou quase ninguém, preocupado com este assunto. As pessoas desconheciam dados, estatísticas importantes e viviam suas vidas alienadas à uma realidade que trará, ouso dizer que já está trazendo, impactos significativos para suas vidas.
O que eu fiz? Criei um blog, uma conta no Instagram e mais tarte um canal no Youtube a fim de espalhar aos quatro ventos a urgente necessidade de mudança no nosso estilo de vida, se quisermos continuar habitando este planeta. A Casa Sem Lixo nasceu assim. Em 2016 havia muito pouco conteúdo disponível na língua portuguesa e pensei que,
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.