6 dados que mostram que o MST é um aliado do meio ambiente

6 dados que mostram que o MST é um aliado do meio ambiente

Publicado em:
7/2/2022
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Quem tem medo do MST? Uma breve consulta pela sigla na ferramenta Trends do Google, realizada no último 2 e levando em consideração apenas as buscas a partir do território nacional, apontou “mst violência” como a principal pesquisa relacionada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Na verdade, essa associação vale por dois, uma vez que a procura utilizando a grafia “violencia”, sem acento, aparece em primeiro lugar, e a versão gramaticalmente correta, em segundo.

Essas três letrinhas têm o poder de despertar fortes sentimentos no debate público, normalmente divididos entre o amor e o ódio, uma tônica que ganha novos contornos no contexto politicamente polarizado que o Brasil tem experimentado nos últimos 8 anos. E que fique dito desde já: nosso objetivo aqui, neste artigo, não é doutrinar você. Entretanto, a pauta ambiental nos aproxima do movimento, visto que grandes respostas para a crise climática estão no campo, ou melhor, na forma com a qual lidamos com ele. 

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é o maior movimento social do Brasil e tem enfrentado processos que tentam criminalizá-lo. Alguns de seus grandes críticos o colocam na categoria de “célula terrorista”. Um dos argumentos mais comuns é o de “invasão a propriedades privadas”. Porém, é importante delimitar: o MST publicamente indica a ocupação de terras enquanto um de seus instrumentos de luta. Mas não são quaisquer terras. Essas em questão são aquelas sem função social, ou seja, que são improdutivas ou que apresentam irregularidades, situações que a colocam em condição legal para a desapropriação por interesse social. Essa é uma possibilidade chancelada pelo próprio poder legislativo, e são classificações descritas na Lei nº 4.504 de novembro de 1964, também chamada de Estatuto da Terra. 

A organização, criada em 1984 por João Pedro Stédile, tem como uma das principais pautas a reforma agrária, ou seja, a luta pela reorganização da estrutura fundiária, questionando o entendimento de terra enquanto propriedade, e reivindicando sua ocupação e distribuição a partir da ótica da função social. O assunto, em si, não deveria ser um bicho-papão, pois, desde 1970, existe o INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, vinculada à administração pública federal e atualmente subordinado à pasta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.  

Hoje em dia, o MST está presente em 24 estados, dentro das cinco regiões do Brasil. Seu nome indica: é formado por pequenos produtores rurais - homens, mulheres, jovens, idosos, por vezes famílias inteiras - que se unem em prol de uma divisão democrática das terras agricultáveis e ao direito à sua ocupação, acesso e distribuição; portanto, possuem base rural e popular. Mas, essa é uma demanda necessária? Alguns números podem ajudar você a responder sozinha essa pergunta. 

De acordo com o Censo Agro 2017, realizado pelo IBGE, dos 851.487.659 hectares que correspondem ao território nacional, 351.289.816 representam a área total ocupada por estabelecimentos agropecuários. Agora, o número total de estabelecimentos agropecuários, que considera produtores com áreas e sem áreas, é de 5.073.324. Soa desigual? Pois é. Uma olhada mais atenta na estrutura agrária brasileira indicam o seguinte padrão: quanto maior a área do estabelecimento agropecuário, menor a quantidade de estabelecimentos nele inseridos. Ou seja, muita terra na mão de poucos proprietários.

  • 51.203 estabelecimentos constam no grupo dos que possuem área igual ou maior do que 1.000 hectares; ao todo, ocupam 167.227.511 hectares da área total abrangida por estabelecimentos agropecuários.

  • 420.719 estabelecimentos constam no grupo dos que possuem de 100 a menos de 1.000 hectares; ao todo, ocupam 112.257.692  hectares da área total abrangida por  estabelecimentos agropecuários.

  • 1.980.684 estabelecimentos constam no grupo dos que possuem de 10 a menos de 100 hectares; ao todo, ocupam 63.810.646 hectares da área total abrangida por  estabelecimentos agropecuários.

  • 2.543.681 estabelecimentos constam no grupo dos que possuem menos de 10 hectares; ao todo, ocupam 7.993.969 hectares da área total abrangida por estabelecimentos agropecuários. 
  • 77.037 são os produtores que não possuem nenhuma área agrícola.  

Quando comparou-se os dados do Censo Agro 2017, o mais atual, com a edição imediatamente anterior, de 2006, foi constatado uma redução em 9,5% no número de estabelecimentos classificados como do tipo “agricultura familiar”. E foi justamente essa categoria a única que perdeu mão de obra, um total de 2,2 milhões de trabalhadores, enquanto a agricultura não familiar registrou a criação de 702 mil postos.

Agroecologia: semente que cria raízes, dá frutos e regenera 

Diversas ações vindas direto das estruturas da organização têm eternizado seu nome entre aqueles que se colocam em favor do meio ambiente. O desenvolvimento de práticas ambientais sustentáveis tem sido uma das principais diretrizes do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra. Confira abaixo 6 dados que mostram que o MST é um aliado do meio ambiente: 

1 - Agroecologia como modelo de produção 

Nos assentamentos do MST, o solo é quem ensina e a monocultura é recusada; as cadeias do ecossistema são respeitadas e os sistemas de agroindústria e agrofloresta são adotados. Resultado: alimentos sustentáveis e sem veneno. Em 2011, inclusive, o movimento recebeu o Terceiro Prêmio Anual de Soberania Alimentar pela Community Food Security Coalition.  



2 - 1º em produção de arroz orgânico de toda a América Latina 

Desde 2017, o MST é o maior produtor orgânico do grão no território latino-americano. Mais da metade da safra permanece no país, com distribuição por diversas regiões, enquanto 30% circula no mercado externo, com exportação para países como EUA, Alemanha, México, Nova Zelândia, entre outros. 

3 - Educação, Ciência e Tecnologia a serviço do campo 

Em 2017, o acampamento José Lutzenberger, em Antonina (PR), recebeu o prêmio Juliana Santilli pelo trabalho de reflorestamento do bioma Mata Atlântica. Na cidade de Arataca (BA), uma escola do movimento desenvolveu em 2018 um projeto pioneiro que cria embalagens sustentáveis em película biodegradável feita a partir da biomassa da banana verde. Já em 2002, o trabalho de conservação ambiental em assentamentos no Pontal do Paranapanema (SP) recebeu o Whitley Gold Award, um dos grandes prêmios ambientais do mundo. 

4 - Combate à fome e à insegurança alimentar 

Comida saudável nas mesas do campo e da cidade; seja através das feiras em regiões metropolitanas do país, levando produtos orgânicos para os consumidores urbanos ou através de campanhas solidárias de cestas e marmitas para pessoas em vulnerabilidade social. Desde a chegada da Covid-19 ao Brasil, o MST já doou 5 toneladas de alimentos e 1 milhão de marmitas. De acordo com estimativa do movimento, divulgada em janeiro, a campanha “Natal sem Fome” em 2021 já chegou à marca de 700 toneladas de alimentos doados.

5 - Campanha Nacional de Plantio de Árvores 

Em 2020, a Coordenação Nacional do movimento lançou o plano “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, em que se compromete com o plantio de 100 milhões de árvores em todos os estados brasileiros em 10 anos. A meta anda de mãos dadas com projetos de recuperação de áreas degradadas por meio de agroflorestas e quintais produtivos. 

6 - Com relações de trabalho justas, o campo é papo de futuro 

O campo não precisa ser ultrapassado. Os trabalhos ao redor da agricultura podem ser renovados. Essa é a aposta do movimento, que tem como base a organização da cadeia produtiva de forma coletiva, através de modelos como associações e cooperativas. Investindo na agroecologia, novos conhecimentos se fazem necessários. Que saberes, empregos e oportunidades "do futuro” podem florescer através da produção, distribuição, logística e pesquisa com foco em uma agricultura verdadeiramente sustentável?










Brenda Vidal
Por:
Foto do banner: The Wasted Blog
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Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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