É preciso visibilizar os invisíveis, e não apenas no carnaval.

É preciso visibilizar os invisíveis, e não apenas no carnaval.

Publicado em:
30/4/2023
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Há quem espere o carnaval para abusar da criatividade e desfilar fantasias pelos blocos de rua e desfiles. Há quem o aproveite para escapar da rotina diária e botar o pé na estrada. Como foi o seu?

O que pouco se fala por aí é que milhares de brasileiros aproveitam a semana da folia para garantir o pão de cada dia. Essas profissões são invisibilizadas, e um exemplo claro disso são os catadores de materiais recicláveis. Com ou sem uniforme, faça sol ou faça chuva, essa linha de frente invisível é a grande responsável por recolher muitos dos resíduos gerados no carnaval e no resto do ano. Segundo dados do IPEA, hoje são mais de 800 mil catadores nas ruas. E não se deixe enganar pelo trabalho “de formiguinha”. De latinha em latinha, resíduo em resíduo, os catadores são responsáveis por 90% do lixo reciclado no Brasil. Os catadores não: as catadoras. 70% desse contingente profissional é composto por mulheres.

Outra profissão essencial para a manutenção da limpeza, não só no carnaval, é a do Gari. Só no Rio de Janeiro, durante os dias de festa de 2019 (uma das últimas grandes edições do evento pré-pandemia) foram recolhidos 1.227 toneladas de resíduos. Já em São Paulo, a Amlurb registrou mais de 916 toneladas no mesmo período. Mas aqui cabe uma reflexão: você já notou que nessa época do ano, esses profissionais costumam ser reconhecidos, homenageados e até viram fantasia dos foliões? Se entendemos e reconhecemos o tamanho e a importância desses gigantes, por que só os honramos por uma semana?

Outro dado que me faz refletir muito sobre esse tema, é o fato do Rio de Janeiro gastar 32 milhões de reais todo ano com a limpeza de praias. Para se ter uma ideia, esse dinheiro é o suficiente para construir 182 casas populares ou 19 UPAs. Ou melhor, esse dinheiro poderia ser investido até mesmo dentro da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana). Então, se você foi aproveitar os próximos dias na praia, mas não pensou nisso, #ficaadica para as próximas viagens. Existem muitas práticas que facilitam a vida do catador e impulsionam a reciclagem. Pimp My Carroça, movimento do qual sou fã, trocou algumas dicas com a Menos1Lixo sobre isso, fica ligado nelas.

A verdade é que o Carnaval de 2023 entregou o que prometeu. Felizmente chegou o momento dos reencontros nas ruas e foi possível soltar aquele grito de liberdade que ficou preso nos últimos anos. Finalmente chegou o momento em que milhares de catadoras puderam ter suas rendas novamente com os recicláveis. Tudo é muito promissor - e que bom! - mas vale o lembrete: curtir é bom, mas a longo prazo fica ainda melhor. E o carnaval no Brasil é sim a maior festa do mundo, mas se a gente quiser continuar botando o nosso bloco na rua por muitos anos, é preciso ter consciência agora. E não, esse não é um gancho para glitter e fantasias sustentáveis (mas se quiser saber sobre, fica de olho nas dicas da Menos1Lixo). Bora aprofundar um pouco mais nisso? Para seus próximos carnavais, anote as dicas:


  • Copo descartável está mais fora de moda que “fantasia de indío”, né? Sou suspeito a falar, mas a pedida com certeza é desfilar autenticidade e estilo com o copinho retrátil da Menos1Lixo
  • Essa dica pode causar estranheza, mas é muito mais necessária do que parece. Catadores de materiais recicláveis ainda sofrem preconceito e, algumas vezes, até agressões. Se presenciar qualquer uma dessas cenas, repudie o ato e ofereça apoio à vítima.
  • Carnaval é pluralidade, é alegria, e por que não uma grandiosa plataforma ativista para espalhar conscientização e impacto positivo? Você pode fazer isso através da sua fantasia, por exemplo. Dias atrás, estive no Baile da Vogue e -além de me divertir bastante- aproveitei a oportunidade para alertar sobre as terríveis consequências do ouro brasileiro em terras yanomamis.

E você, como foi o seu carnaval? O que esperar dos próximos? Quais são as suas dicas para ser um folião mais consciente?

Wagner Andrade, Menos 1 Lixo
Por:
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Sobre o movimento

Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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