O olhar pra dentro é revolucionário

O olhar pra dentro é revolucionário

Publicado em:
25/3/2019
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Se a Gabi de hoje encontrasse a Gabi de 6 anos atrás, elas quase não se reconheceriam.

Eu sou mineira, então cresci muito conectada com a comida - com o pé na terra, na horta, acompanhando minha vó cozinhar pra família toda, todo dia, e comendo muito bem, diga-se de passagem. Quando fui fazer intercâmbio, engordei 10kg e percebi que tinha que me cuidar melhor. Comecei a ler sobre tipos de dietas e descobri que, pra emagrecer, precisava aliar a dieta à uma atividade física, então comecei a correr e me apaixonei. Na medida que os avanços na corrida aconteciam, via as mudanças no meu corpo e percebia que, quando comia mal, meu corpo respondia quase que instantaneamente - o ritmo na corrida caia, o intestino reclamava, dor de cabeça, inchaço, preguiça... E foi aí que percebi que a relação com a comida tinha raízes mais profundas do que eu imaginava e comecei a estudar cada vez mais. Já vegetariana, descobri minha intolerância à lactose, o que mudou significativamente minha alimentação e eu não estava satisfeita com o que encontrava disponível para comer na rua. Essa insatisfação me motivou a me especializar em culinária para poder preparar comidas tão ou mais gostosas do que as que eu comia antes de mudar meus hábitos alimentares. Afinal, temos que optar pela comida saudável por prazer também, não só por "obrigatoriedade". Larguei o Urbanismo e fiz da produção de conteúdo gastronômico, meu novo trabalho - foi uma decisão difícil e, nesse período, ainda que me alimentasse bem, fui diagnosticada com depressão. Naquele momento eu vivia quase a vida dos sonhos - trabalhando com o que amava, um relacionamento saudável e estável, segurança financeira, conquistas e mais conquistas - e não me sentia feliz. A depressão me levava, cada dia mais, pra caminhos opostos ao que eu pregava: comecei a me alimentar mal, deixei de correr, procrastinava tarefas importantes... Foi aí que caiu a ficha: só a saúde física não garante nada, precisamos olhar também para o emocional e para o espiritual.

Nasci numa família humilde e muito complexa - brigas e desafios financeiros eram problemas constantes. Minha mãe era bastante dura comigo e eu não tive muito contato com meu pai, coisas que me deixaram muitos traumas e alimentaram crenças limitantes profundas. Tudo isso me fazia cair num circulo gigante de autossabotagem e me levavam a consumir de modo desenfreado pra tentar compensar o vazio interno que sentia - desde comida até roupas e acessórios. Já consciente de que a mudança precisaria acontecer de dentro pra fora, procurei todo tipo de ajuda: terapia, reiki, constelação familiar, microfisioterapia, deeksha, tetha healing, etc.

Mais recentemente me deparei com outro desafio que veio pra amarrar toda essa busca por "cura": Síndrome do ovário policístico. Como minha mãe tem câncer de origem hormonal e eu já tinha dois nódulos nos seios, parei de tomar o anticoncepcional e os cistos, que já apareceram na adolescência, acabaram voltando. Toda essa história da SOP veio num momento super decisivo pra mim! Vida profissional e pessoal gritando por posicionamentos! Me obrigou a olhar pro quão desconectada de mim e da minha feminilidade eu estava. Somos um microcosmos da natureza e essa desconexão faz com que busquemos padrões. Padronizamos a terra, plantando o mesmo alimento por anos a fio e esperando que ela tenha a mesma produtividade. Percebi que fazia o mesmo comigo (através do anticoncepcional) - negava a fluidez, negava meus ciclos, tão característicos da energia feminina!

Se prestarmos atenção na sazonalidade da natureza, ela conspira a nosso favor: sempre produzindo os alimentos certos pra que a gente se sinta bem e nutrido em cada estação! Não seria diferente com nosso corpo: alinhado às fases da lua, agindo pra que cada fase do ciclo/mês seja um momento especial e único em todo seu potencial. Tive que aprender a olhar pra mim! Sentir quais alimentos me faziam bem, quais posturas eu estava tomando frente à situações da vida, o quanto da minha energia feminina estava sendo negada e em que aspectos, se eu estava me dando o direito de ser vulnerável, carinhosa, cuidadora não só com os outros, mas verdadeiramente e comigo mesmo. Entendi que preciso dos meus momentos de corrida, de máscara de argila, de chá e leitura, de sedução, de toque, de introspecção, de uma roupa ousada, de andar descabelada, de conversar com amigas, entre outras coisas.

O conceito de saúde holística pressupõe o tratamento do ser humano em todas as suas dimensões: física, emocional e espiritual. Hoje me considero sim, saudável de verdade. Coloquei o emocional/psicológico no topo das prioridades e, conforme as coisas foram melhorando, meus cuidados com a minha alimentação e meu corpo foram seguindo o mesmo caminho :) Claro que, no meio tempo, os estudos confirmavam essa trajetória cada vez mais. São inúmeros livros e documentários comprovando a eficácia desse olhar holístico pra vida. Hoje consigo cuidar das minhas emoções e da minha energia com o apoio da espiritualidade e yoga; cuido da minha mente, de questões mais práticas e fundamentadas com apoio psicológico e teórico; e do meu corpo me alimentando bem e com pratica de exercícios diários.

Desde que me comprometi a buscar a saúde em sua essência muitas mudanças se instauraram.  

Me sinto uma mulher mais forte e mais sensível ao mesmo tempo; com mais senso de autoresponsabilidade - que refletiu diretamente na minha carreira e relações; e o melhor: levando a vida mais leve, independente e feliz :) e consequentemente, consumindo menos porque não preciso mais de compensação emocional desse tipo. Que bom poder abraçar a mim mesma! Ainda tenho muito a aprender, mas sinto que estamos fazendo progressos.

Saúde e eu, vida e eu, universo eu

Gabi é autora do livro e do site Flor de Sal e do projeto GoodTruck. que leva comida pra quem precisa com comida saudável e que iria pro lixo
Gabi Mahamud
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