Entrevista | Diego Badaró e a alma do premiado chocolate Amma

Entrevista | Diego Badaró e a alma do premiado chocolate Amma

Publicado em:
26/5/2015
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Imagine um mundo sem chocolate. Sem aquela doçura boa de depois das refeições, sem cacau, sem doce. Para o baiano Diego Badaró, esse é um mundo completamente sem graça. Ele, que é sócio da Amma, vem fazendo a sua parte para mudar esse cenário. Mais do que isso: ele faz mágica para mudar o mundo através, vejam só, do chocolate. Essa crise vem do fato de que 5 multinacionais dominam 95% do mercado e com isso. "A fruta é cotada na bolsa de Nova York por cerca de US$3 o quilo, enquanto um quilo de bombom é vendido por US$600", ele explica. Ou seja: o chocolateiro, que bota o recheio e a embalagem, fica com quase tudo e a ponta produtora acaba não valorizada. E, bem, Diego vem, através da Amma, incluindo o nome do Brasil num patamar cheio de autoridade no mundo. O melhor: com muito, muito, muuuuito amor pela coisa.

A Amma é uma marca de chocolates superartesanais, produzidos diretamente nos solos paradisíacos do Sul da Bahia, como Itacaré e Ilhéus. Diego faz parte da quinta geração produtora de cacau. Nasceu em Salvador, mas durante toda a infância vivia enfurnado nas fazendas da família e participava de todo o processo de cultivo e colheita da fruta. "Lembro que a gente se divertia muito, entrava no cacau fermentando até o pescoço, já pegando a magia", ele conta. Lá nos anos 90, quando pintou a crise vassoura-de-bruxa que destruiu as plantações de cacau, sua família abandonou o negócio. Menos sua mãe que, nas suas palavras, "Sempre teve um amor muito grande pela natureza, pelos elementos, pela energia da floresta e ela cultivou essa força até no momento de crise". Ele mesmo acabou indo estudar comércio exterior para "se conectar com outras culturas". Até que, em 2000, voltou pra região sul da Bahia e, como ele mesmo diz, sentiu uma "Força muito forte, uma energia me chamando para cuidar da terra". Chamado bateu no coração. Diego seguiu.

Só que, diferente de como era feito, ele mudou completamente o método de produção, a fim de fazer um cacau orgânico e de qualidade gourmet. Fez questão de manter o sistema cabruca, onde os pés de cacau são plantados no meio da Mata Atlântica, para aproveitar a sombra das árvores nativas. Algumas das árvores têm até 250 anos de existência. "É uma relação espiritual com a planta mesmo", ele revela.  Além disso, usou da técnica de manejo orgânico das áreas, "Um biofertilizante maravilhoso feito do estrume do boi, água, água do mar, frutas, melaço, casa de cupim, lama do mangue e outras coisas", como ele explica, "Isso é um líquido rico em bactérias, você devolve vida ao solo e ele ajuda a reestabelecer o seu equilíbrio natural". Foi tudo um processo bem orgânico e ele teve que ensinar essas técnicas naturais aos trabalhadores da região, que estavam acostumados à facilidade que a química trazia. "A terra tinha ficado em um estado natural de abandono depois da crise e aos poucos a natureza começou a se recuperar", ele conta.

Passada essa etapa, Diego saiu pelo mundo para entender melhor as características que faziam daquele fruto algo tão especial pra ele. Mergulhou fundo para conhecer a química do grão, as reações, a fermentação. Conheceu gente do bem superinteressante que só contribuiu para esse gosto crescer ainda mais. Com toda essa bagagem adquirida, construiu uma fábrica em Salvador para pôr em prática o que tinha aprendido e criar chocolates incríveis.

Ah! A fábrica, diga-se de passagem, é inteira sustentável. "Ela foi construída buscando a maior economia de energia possível", ele conta.  O sistema de ar condicionado não emite gases: eles são requeimados e o que sai é vapor e aroma que, nas palavras de Diego, "fazem parecer que um grande bolo de chocolate está sendo feito". O aquecimento da água é feito por placas solares e o resfriamento por um sistema inteligente de chiller que leva à economia de até 30% de energia. As embalagens são feitas com papel reflorestado e tinta vegetal. Por lá, sustentabilidade é coisa natural, intrínseca, já tatuada na forma de ver o mundo. "Sustentabilidade é a multiplicação da vida", ele me responde quando pergunto sobre a sua visão pra essa palavra, "Sustentável é você ampliar, não tirar". Pelos arredores, eles plantam, pelo menos 10 mil árvores por ano.

As delícias que a Amma produz são vendidas em uma loja em São Paulo e outra no Cadeg de Salvador a preço de custo, além de lojas revendedoras pelo Brasil. Mas a grande maioria dos produtos vão lá pra fora. "Tem anos em que exportamos 75% da produção", ele conta, "Aqui a gente valoriza muito a cultura do importado e, além disso, rola uma política agressiva de mercado e o chocolate acaba mais caro no Brasil do que no exterior".  Todos os contatos que ele fez ao longo dos últimos anos facilitaram a conquista do mercado internacional. "Esse mundo do chocolate é mesmo incrível, todo mundo é parceiro, não tem aquela competição brava, há inúmeras trocas e conexões", ele revela. Talvez seja por isso que Diego acredita fielmente no poder que o chocolate tem de mudar o mundo. E, leve desse jeito, vai produzindo delícias que arrancam sorrisos. Como ele mesmo diz, "Chocolates com alma". Precisa mais de quê!?

Menos 1 Lixo
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