Você sabe a diferença entre lixão e aterro sanitário? O lixo que você descarta some da sua casa, do restaurante que você frequenta e no seu ambiente de trabalho… mas você sabe pra onde ele vai?
O Brasil ainda precisa caminhar muito quando falamos em gestão de resíduos sólidos. Desde a década de 1950 (!) que os lixões são considerados inadequados como destino pro nosso descarte. Em 1954, a disposição de resíduos sólidos a céu aberto foi proibida e em 1981 e depois em 1998, leis federais criminalizaram essa prática. Mas foi só em 2007 e 2010, que resolvemos enfrentar esse problema de forma sistêmica e efetiva, estabelecendo prazos pra que todos os municípios fechem seus lixões.
E o prazo era até 2 de agosto de 2014.
Hoje, mais da metade do volume de resíduos coletados no país são destinados aos lixões ou espaços a céu aberto, que não deveriam receber lixo. E esse número ainda pode ser pior, já que esses são só os que foram registrados pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Eles são espaços onde os resíduos são descartados diretamente no solo, sem qualquer proteção e controle ambiental, provocando muitos problemas e danos ao meio ambiente e à saúde de todo mundo. Só pra você ter uma ideia da gravidade do problema, segundo o Fernando Barreto da ABRAMPA,
50% dos leitos no Brasil são ocupados por doenças provenientes de saneamento ou gestão de resíduo.
Alguns dos maiores lixões do país ficam em áreas de preservação ambiental e bem distantes das cidades, e quase ninguém vê. E se a gente não vê, não entende de fato quais são os problemas gerados por esse processo.
Lixões são lugares propícios pro aparecimento de mosquitos, ratos, baratas e animais que transmitem doenças. Além disso, o chorume produzido nos lixões contaminam os lençóis freáticos, os rios, mares e o solo. E, claro, a gente.
Eles são hoje a maior fonte de poluição do mundo!
E impactam diretamente as comunidades carentes das zonas periféricas das cidades e mais da metade delas no Brasil ainda têm lixões.
Eles são parte fundamental da gestão de uma cidade sustentável, porque garante o controle da água, do gás, da energia e precisa de licenciamento ambiental pra ser estabelecido. Tem um limite de recepção de resíduos a partir de estudos do solo e da realidade de cada espaço. O solo e os lençóis freáticos são preservados nesse modelo e monitorados, pra que a contaminação não aconteça.
Hoje em dia, os aterros mais responsáveis, já geram energia a partir do lixo, como o biogás, por exemplo, que pode ser usado pela população depois de um tratamento adequado. E a área, depois, ainda pode ser transformada em parques e ambientes de lazer pra redondeza.
Ainda existem os aterros controlados, que recebem o lixo sem impermeabilização do solo ou qualquer tratamento dos gases e do chorume. É um modelo intermediário entre os lixões e os aterros sanitários. Tem algum tipo de controle e seguem algumas normas brasileiras do meio ambiente, mas é o mínimo do mínimo e não é o suficiente pra atender às recomendações da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
No Brasil, agente ainda tem uma discrepância muito grande entre as regiões e o destaque pra quantidade de lixões. No Nordeste, por exemplo, temos 7x mais lixões do que o Sudeste.
A gente precisa parar de comparar o Brasil com países menores, mais desenvolvidos e com um contexto histórico completamente diferente do nosso. Isso desenvolve frustração e uma sensação de que nunca vamos conseguir mudar esse quadro. Um exemplo bacana são os EUA, o quarto maior país do mundo (nós somos o quinto!). A partir dos anos 1980, eles conseguiram dar fim a mais de 20 mil lixões. Na época, era quase um lixão pra cada cidade estadunidense.
O processo aumentou o índice de reciclagem, pela concentração de materiais recicláveis em amplas áreas de tratamento, diminuindo custos de logística, e garantindo a viabilidade econômica de vários resíduos que não tinham valor no modelo de gestão antigo. Em 1960, os EUA reciclavam 6% do lixo e em 2013, esse número passou pra 34%.
E em 1970, quando o país tinha 20 mil lixões, em 2010, passou a ter 1.800 aterros sanitários regionais.
Os moradores das 3 melhores cidades quando falamos em gestão de lixo geram:
Nessas cidades, a arrecadação específica pra gestão de lixo, com as companhias de limpeza urbana, cobre 100% das despesas. E fica claro que precisamos, cada vez mais, taxar esse serviço, o que garante melhores resultados e mais investimento pra área. No Rio, por exemplo, a despesa é de R$ 284,41 por pessoa por ano.
Inicialmente, aterros sanitários são mais caros, pela necessidade de manutenção periódica e por todo o envolvimento complexo da garantia de que ele vai servir à população de maneira sustentável e viável. Mas quando a gente pensa que a estimativa de gasto do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 1,85 bilhão de dólares em 2024 só com doenças relacionadas às consequências do lixão, a gente já consegue pensar como é fundamental relativizarmos o nosso conceito de gasto.
No final de abril, o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou a implementação do plano de governo pra resolver a questão dos lixões no Brasil, com o projeto Programa Lixão Zero. Os principais pontos de ação são, segundo o documento, realizar a destinação final ambientalmente adequada de resíduos sólidos urbanos, fortalecer a Logística Reversa; potencializar a geração de energia a partidos resíduos sólidos e elaborar Plano Nacional de Resíduos Sólidos.
E a gente fica de olho pra entender os próximos passos e garantir que o plano seja de fato sustentável pra todos.
Fonte: Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana, Selurb e Pwc, 2018.
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.