Kintsugi: A arte de ser imperfeito

Kintsugi: A arte de ser imperfeito

Publicado em:
18/6/2021
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Você já ouviu falar no Kintsugi?

Em um mundo capitalista em que a obsolescência das coisas é programada e o desejo de consumo é reiterado por novos produtos mais interessantes a todo segundo, quantas vezes somos capazes de reutilizar, ou até mesmo ressignificar aquilo que temos? Parando pra pensar, quantas vezes fazemos isso com nós mesmos? Todo mundo já ficou quebrado um dia. Em cacos. Juntar esses cacos nem sempre é fácil. Buscar por resiliência e aceitar o imperfeito é uma das filosofias da arte do Kintsugi.

O Kintsugi vê beleza nas cicatrizes: da vida e dos objetos. É uma técnica que surgiu há cinco séculos no Japão e é difundida até hoje (mas artes similares também foram/são realizadas em outras partes da Ásia, tá?) A história conta que um tal xogum chamado Ashikaga Yoshimasa, quebrou sua tigela de cerâmica preferida e tentou de todas as formas encontrar quem a consertasse: e por consertar queremos dizer, deixar ela perfeitinha feito nova. Só que já sabe o ditado, né? Copo quando quebra não volta a ser como antes não. Um dia, os artesãos de seu país decidiram fazer diferente: Encontrar beleza na jornada e valorizar as cicatrizes do potinho. Com laca (uma resina produzida em certas árvores do oriente) e ouro, eles uniram os cacos e fizeram da louça um objeto totalmente novo, mas ao mesmo tempo fortalecido pelas quedas (literalmente) que a vida trouxe. Depois disso o Kintsugi passou a ser extremamente difundido e muitas cerâmicas "consertadas" por essa técnica se tornaram, inclusive, mais apreciadas do que antes. É claro que essa belíssima arte pode nos ensinar muito sobre reutilização. Mas o Kintsugi também é filosofia (e recebeu influências de uma outra corrente de pensamento, o wabi-sabi, que diz respeito à aceitação das imperfeições) e dialoga muito com a nossa própria vulnerabilidade. Estamos tão acostumados à viver num mundo cheio de expectativas e moldes que se permitir não querer ser perfeito o tempo todo pode ser libertador.

A gente pensou em falar do Kintsugi para celebrar o dia 18 de junho, o dia da imigração japonesa. A pluralidade no Brasil não é segredo para ninguém e hoje sabemos que nosso léxico cultural é diverso graças à todos esses conhecimentos diferentes. Oficialmente, 18 de junho é relembrado como o dia em que o primeiro navio nipônico aportou no Brasil, no ano de 1908, em Santos. Muitas das famílias que chegaram, eram camponeses pobres que vieram para trabalhar nas lavouras de café. Mais tarde, fugitivos de guerra. Apesar de celebrarmos as influências nipônicas (e outras) na nossa cultura, o processo de imigração não foi exatamente fácil. Além de todas as diferenças culturais e linguísticas, o perigo ou terror amarelo (uma metáfora para designar asiáticos do leste e seus descendentes diaspóricos como um perigo, doença ou ameaça) foi real, assim como as políticas antimiscigenação, a xenofobia e as condições precárias de trabalho.

Felizmente hoje, podemos pensar sobre as influências da cultura nipônica com carinho e o Kintsugi é uma arte que trazemos conosco para refletir sobre a vida! Seja nos ressignificando ou reutilizando às coisas que estão ao nosso redor com cuidado (lembre-se: não existe jogar fora!) nós estamos juntes nessa jornada de regeneração. Às vezes é difícil e pensar que ainda temos TANTO pra mudar pode ser desafiador. Mas entender as quedas como parte de quem somos é uma ferramenta potente.

Honrar as ancestralidades faz parte do que entendemos por cuidar do planeta, valorizamos a diversidade desse Brasilzão e o festejamos como o país que abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão.

Deixamos, por fim, um provérbio japonês que está diariamente presente na nossa jornada de regeneração, e esperamos que vocês também possam levá-lo no coração!

"Até a jornada de mil milhas começa com um pequeno passo" ❤️

Misa Uehara
Por:
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