As mulheres são de março pro ano inteiro

As mulheres são de março pro ano inteiro

Publicado em:
8/3/2019
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Ter uma empresa com uma equipe de maioria mulheres é, hoje, um grande desafio. Segundo o Valor Econômico, precisamos de quase 220 anos pra que as mulheres consigam igualdade de participação no mercado de trabalho, salário e cargos de liderança. Hoje, 51% da população é, mas entre elas, a taxa de desemprego ainda é maior que a dos homens. Elas não ocupam nem 40% dos cargos de liderança no Brasil e, quando conquistam esses espaços, ganham em média 47% a menos do que eles. Elas são mais graduadas do que eles: 50% das mulheres tinham diploma em 2017 contra 38% dos homens. Segundo o relatório anual do ano passado da Organização Internacional do Trabalho de 2018, menos de 50% das mulheres estavam no mercado de trabalho, em contraposição a 75% dos homens. Aqui pela América Latina conquistamos um pouco mais de 50%, mas os homens ocupam quase 80% dos cargos.

E você já pensou como isso tá intimamente conectado com a destruição do planeta?

A Fe Cortez já indicou alguns livros que contam um pouco dessa perspectiva, um deles é O Cálice e a Espada da socióloga e ativista estadunidense Riane Eisler. Ali, ela conta como nem sempre vivemos em uma sociedade cujo pilar é a dominação e a guerra e, então, uma sociedade patriarcal. Na Europa Antiga, por exemplo, Eisler conta que não havia qualquer sinal de desigualdade sexual - algo nos é ensinado como parte da natureza humana. Pelo contrário, a sociedade era matrilinear, ou seja, com toda descendência determinada pela parte feminina da família. Eram elas, inclusive, que construíam os santuários e templos, tão valorizados na Antiguidade.

As criações mais sofisticadas da Europa Antiga, os mais raros vasos, esculturas, etc. de que se tem notícia foram todos obras de mulheres.

E o mais interessante é que no período Neolítico, ou seja, quando o homem deixou a atividade de nômade e começou a entender sobre agricultura, não existiam imagens de forças armadas ou indícios do poder pautado na violência. Não existiam, ainda, nobres guerreiros ou hierarquias relacionadas ao luxo e à ostentação. O homem era um indivíduo de comunidade. Vasos e esculturas eram pensados na inspiração com os símbolos da natureza. E esses símbolos eram associados à Deusa.

Ilustração por Samantha Mash

A representação da Deusa trazia uma perspectiva do que a sociedade desejava: o cultivo da terra, uma vida equilibrada entre necessidades e contribuições com o planeta. Enquanto mulher, a Deusa e a natureza dão à luz e Eisler aponta que essa era uma imagem importante pra sociedade que se formava: a celebração e o amor à vida e não a celebração e o medo da morte, como se formou a sociedade cristã.

O problema fundamental não é o do masculino enquanto sexo. A raíz do problema repousa num sistema social em que o poder da Espada é idealizado - em que tanto homens quanto mulheres aprendem a equiparar a verdadeira masculinidade com violência e dominância, e a ver os homens que não estão em conformidade com esse ideal como frascos ou afeminados. [Riane Eisler em O Cálice e a Espada]

O historiador Lynn White Jr. contou que a mensagem absorvida pelo cristianismo é de que somos criados à imagem de Deus, o que nos afasta da condição de iguais dos outros seres que moram no planeta. Somos especiais, segmentados e, por isso, consideramos que podemos dominar a subjugar.

E esses valores masculinos da guerra, da dominação e da ganância, são responsáveis por um sistema social de desigualdade e destruição do planeta. Precisamos resgatar as raízes das Deusas, de Vênus, de Ísis, de Gaia. Elas são deusas de doação, da fertilidade no seu mais puro significado, da transformação e da vida. Em uma sociedade em que se valoriza, sobretudo, o ter e não o ser, a desigualdade é pilar importante dessa equação. E nós acreditamos que o empoderamento das mulheres e o resgate dos valores femininos é a chave pra mudança. Desenvolver valores femininos é pra todos, homens e mulheres e significa cuidado, atenção e parceria.

A dominação é a causa pra tanto retrocesso e ela é refletida nos nossos relacionamentos interpessoais e com a natureza. Acreditamos que a natureza existe pra nos servir e pra alimentar a nossa ganância e fome de acumulação. Precisamos recuperar as nossas divindades femininas, nossos valores femininos e o nosso empoderamento enquanto indivíduos. E é muito bacana estrear As Mulheres de Março aqui no Menos 1 Lixo, porque a equipe do movimento é essencialmente feminina e colocamos em prática todo esse movimento de resgate e valorização do ser humano, da sensibilidade e da troca de inspirações.

Somos transformação.

Nina Marcucci
Por:
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Sobre o movimento

Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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