New Hope Ecotech: organizar o lixo é preciso!

New Hope Ecotech: organizar o lixo é preciso!

Publicado em:
1/9/2015
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Há mais ou menos duas décadas atrás, jovens se reuniam espalhados por países europeus e pensavam em soluções que pudessem ser aplicadas a um setor que por muito tempo foi sendo construído sem muita atenção, mas que se mostrava como fundamental para que o futuro se configurasse como sustentável: o lixo. Tanto foi feito que, hoje, a maioria dos países da Europa tem um sistema avançado de reciclagem, que mapeia toda a cadeia e os dados de volumes de materiais que foram efetivamente reciclados e, com isso, consegue responsabilizar e remunerar todo mundo que participa desse importante processo. Mais do que isso: controlando e monitorando esse sistema, aumenta a quantidade de material reciclado (e consequentemente, seu preço cai), gera-se empregoscrescimento econômico, incentiva-se a geração de novos modelos de negócio e, no fim, acaba-se até por reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A coisa faz tanto sentido, que a União Européia anunciou no começo do ano que até 2030 pretende reciclar 70% dos resíduos urbanos e 80% dos materiais de embalagens.

Nesse mesmo tempo, a gente, aqui no Brasil, começa a ver grupos de jovens se reunindo, pensando e (co)criando ferramentas para caminharmos em direção a essa lógica que envolve toda a cadeia produtiva de tudo (T-U-D-O) que consumimos e que precisa ser olhada com olhos atentos e criativos. Por aqui, a coisa é um pouco mais complexa e começa em casa: muitos brasileiros (muitos mesmo) não separam o lixo, e ainda vêem os resíduos que são fonte de dinheiro e recursos, ainda como lixo. Pouco a pouco essa cultura da importância da conscientização sobre os resíduos que produzimos começa a ganhar força, mas ainda não dá pra dizer que isso é algo presente nos nossos hábitos. Depois disso, mais uma diferença com relação à Europa: lá, o governo é quem cuida da coleta e da distribuição de resíduos para reprocessadores; aqui, temos figuras importantíssimas nesse caminho: os catadores e o pessoal que trabalha em cooprerativas e em ferros-velhos. Estima-se que são cerca de um milhão de brasileiros trabalhando com isso. A grande maioria, na informalidade. São eles os responsáveis pelas etapas da coleta, triagem, agrupamento e das vendas para os reprocessadores. Ou seja: 90% da cadeia de reciclagem é feita por esses caras.

É que tudo isso é muito novo pra gente: foi só em 2010 que o Brasil passou a ter uma Política Nacional de Resíduos Sólidos. Temos aí 5 anos de uma lei que precisa ser verdadeiramente incorporada no dia-a-dia de todos os brasileiros, pois nem os acordos de alguns setores foram definidos ainda. Sabe.. coisa de longo prazo!? Então. "Quero olhar pra trás daqui a 20 anos e sentir que aquilo que eu fiz na vida gerou algum impacto", conta Luciana Oliveira, "Não adianta querer fugir do Brasil, a gente está materializando um sonho nessa empresa para aplicar soluções aqui e agora". A empresa que ela diz é a New Hope Ecotech, startup que foi lançada tem 7 meses e já vem sendo referência entre empreendedores de inovação social e design. Basicamente, o que eles querem fazer é usar da tecnologia para suprir um buraco existente entre uma complexa cadeia que não remunera justamente seus atores e a falta de conhecimento de mecanismos de como fazer isso por parte das grandes empresas produtoras de bens de consumo.

Luciana é uma dessas jovens que vêm focando o caminhar nessa importante tarefa de, finalmente, termos um sistema de resíduos sólidos social e ambientalmente justos. Tudo começou no começo de 2014,  quando ela e Thiago Pinto faziam um MBA na Kellogg School of Management e cursaram uma disciplina sobre inovação social, cuja parte prática foi justamente vir ao Brasil analisar o mercado de reciclagem. Nessa, conheceram Mateus Mendonça, sócio da Giral, uma empresa que presta consultoria para projetos de reciclagem. Viram aí um campo fértil e de fundamental importância, permeado por uma lei recém-inaugurada e ainda pouco aplicada e viram em si toda aquela vontade de deixar o mundo melhor com ferramentas super atuais. De volta aos EUA para finalizar o MBA, eles focaram em levantar recursos para investir nesse projeto e foram abraçados por investidores anjos, aqueles que colocam grana em projetos de impacto social. Trouxeram pro time André Luiz e Anderson Bezerra, que trabalham com desenvolvimento e tecnologia e tem sete meses que voltaram pro Brasil e oficialmente lançaram a New Hope Ecotech. Nesse pouco tempo, já acumularam prêmios importantes como o The mai Bangkok Business Challenge, o Quinian Social Enterprise e foram a primeira empresa brasileira a chegar na final do Index: Award, maior prêmio de design do mundo.

Eles querem mapear toda a cadeia de reciclagem do Brasil. Diferente das inspirações europeias, algumas décadas na nossa frente, a ideia é fazer com que todos os nossos atores envolvidos no processo de reciclagem (leia-se catadores, e trabalhadores de cooperativas e ferro velhos) sejam devidamente remunerados e valorizados. Pra isso, uma das soluções seria direcionar melhor o investimento que as empresas já são obrigadas a fazer. "Em geral, elas investem em cooperativas escolhidas, o que é ótimo, mas acaba por não remunerar a cadeia toda", Luciana explica, "O que a gente quer é ajudar essas empresas de uma maneira mais escalável". Pra isso, desenvolveram um sistema chamado de Rede Ciclo que é justamente essa plataforma que pretende organizar todos os dados dessa cadeia complexa. "Essa plano megalomaníaco de mapear tudo leva tempo e vem junto de uma mudança cultural, como de falar pro seu Zé que tem um ferro velho que ele precisa organizar os dados dele pra que isso valorize o seu trabalho e gere dinheiro", Luciana reflete, "E a gente vem fazendo isso em pequena escala para ir testando o sistema e já começando a ter esses dados catalogados".

Pra isso, pouco a pouco eles colocaram no ar sistemas que mapeiam parte desse processo. Até agora já lançaram uma plataforma que ajuda empresas a organizarem as entradas e saídas de materiais recicláveis. No mês que vem devem lançar um aplicativo que coloca o consumidor em contato com a cadeia de reciclagem: "Por exemplo, o zelador do seu prédio pode chamar diretamente um catador do bairro para buscar os materiais recicláveis", ela explica, "E daí, todo mundo passa a ser parte dessa cadeia de forma mais engajada". Desta forma, cada um dos atores recebe benefícios por ser parte dessa rede. Os catadores, por exemplo, com equipamentos de trabalho, enquanto os consumidores, com descontos no mercado. Nada disso é mágica: é só a destinação mais justa de recursos que, pela Lei, já têm que ser empregados nesse mercado. Cada um desses sistemas que eles lançam -que têm públicos diferentes do ciclo de reciclagem- são incorporados na tarefa de mapear toda a cadeia através da Rede Ciclo. No final das contas, o fabricante ganha um certificado que comprova que ele investe em reciclagem e gera retorno pra sociedade, e a cadeia informal ganha uma porcentagem do lucro da venda desses certificados.

 

Pra fazer a coisa dar certo, esses jovens da New Hope têm estudado muito e conversado com gente que, há 20 anos, lá no Velho Continente, se viu passando por esse momento parecido com o deles. "Eu sentei com europeus que, 20 atrás, sonhavam em conseguir criar soluções para esse problema", ela, que voltou de uma volta pela Europa para pesquisa há poucos dias, conta, "Por aqui pode parecer um sonho, mas é possível". É aquela velha história de que alguém tem que dar um primeiro passo em direção ao que acredita. "A empresa toda é um sonho", ela diz, "A gente encontrou na reciclagem uma forma necessária e importante de aplicarmos essa missão que nós, como seres humanos, carregamos de ter feito alguma coisa pelo mundo no meio de tanto que já nos foi oferecido na vida".

Olivia Nachle
Por:
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Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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