The Last Of Us: a mudança climática pode causar uma pandemia de fungos?

The Last Of Us: a mudança climática pode causar uma pandemia de fungos?

Publicado em:
30/4/2023
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A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Essa é uma daquelas perguntas que bugam a nossa mente. A estréia de The Last Of Us, série distópica inspirada no jogo de #videogame, torna a questão ainda mais difícil. Se você ainda está por fora desse fenômeno, vamos por partes. A série de televisão pós-apocalíptica foi lançada semanas atrás na HBO Max e narra um futuro pandêmico devastador para a humanidade. Mas tem um porém! A pandemia é causada por fungos, não vírus. A proliferação em escala mundial do fungo Cordyceps, contamina a população, tendo a espécie humana como hospedeiro. Bem coisa de filme, né? Na verdade, nem tanto.


Você deve estar se perguntando o que esse assunto tem a ver com a pauta que honro toda semana por aqui, e eu já vou chegar lá. Antes, preciso dizer que esse ‘fungo zumbi’ não só existe, como também é encontrado no Brasil. Mas calma! Tal fungo é um endoparasita de artrópodes e não chega a contaminar mamíferos, muito menos pessoas. Seus principais hospedeiros são formigas, mariposas e larvas de florestas tropicais, muito comuns no nosso país. O ponto de alerta é que alguns fungos já estão aprendendo a se adaptar às temperaturas mais quentes. Já sacou onde vou chegar, né? Sim, nas mudanças climáticas! Afinal, num mundo em constante aquecimento, como está o nosso, toda preocupação é válida.


Os fungos podem não parecer um grande problema para os humanos, mas a verdade é que eles podem atacar bruscamente insetos e plantas. Quer um exemplo? A West Virginia University descreveu o ataque do fungo Massospora como “uma exibição perturbadora de proporções de um filme de terror”. Esse fungo parasitário consegue manipular as cigarras macho para baterem asas de forma convidativa para acasalar com as fêmeas, espalhando o fungo como se fosse uma doença sexualmente transmissível. Já o fungo que inspirou o videogame e a série, conhecido como “fungo da formiga zumbi”, pode fazer com que os insetos fiquem empoleirados em um galho até que o fungo saia de seus corpos.


Novos fungos estão aparecendo em lugares inesperados o tempo todo. O Candida auris, por exemplo, pode causar infecções graves inclusive na corrente sanguínea. Semanas atrás, cientistas da FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz, registraram o terceiro e maior surto causado por esse fungo, aqui no Brasil. Esse fungo, inclusive, acendeu o alerta do impacto das mudanças climáticas nesse assunto. De acordo com um estudo publicado na revista da Sociedade Americana de Microbiologia, MBio, esse pode ter sido o primeiro exemplo de uma nova doença que surgiu a partir da crise do clima. Ainda de acordo com o responsável pela pesquisa, “o aquecimento global pode levar a novas doenças fúngicas que nem conhecemos agora”.


David Hughes, consagrado cientista que consultou o jogo de videogame, garantiu que uma invasão violenta como retratada na série é “implausível”, mas ainda de acordo com o Hugher, isso não quer dizer que o fungo não possa afetar os seres humanos de outras formas. No começo do ano passado, por exemplo, um estudo publicado na revista Cancer Call, mostrou que os fungos podem ser a causa da rápida progressão do câncer de pâncreas. Para David Hughes, existe uma ameaça mais iminente quando se trata de mudança climática: a comida. Anos atrás, o entomologista fundou a PlantVillage, que ajuda os agricultores a fazerem com que suas plantações resistam a climas mais secos, pragas e outros perigos induzidos pelo clima em seus campos.


Mas calma, respira! Agora se faz necessário trazer um afago nessa leitura, que é uma visão antagônica do apocalipse. Você já pensou em enxergar fungos como a grande Teia da Vida, que permitem que a vida na terra exista - a nossa e de todos os outros seres -? Ele está dentro do nosso corpo, nas plantas, nos animais, no ar, na terra e é, à partir deles, que a coexistência de todos esses seres é possível. A verdade é que o fungo está intrinsecamente ligado a nós, do nascimento à pós morte. “A Trama da Vida”, incrível livro que indico do Merlin Sheldrake, retrata essa relação com os fungos, menos romântica, mas crítica sobre como nos distanciamos deles “pela exotização que nos mantém antropocentrados”. Vale a pena a lida dessa resenha sobre o livro de Sheldrake, escrita pelo Arthur Marchetto, que diz: “a obra apresenta como formas de vida se conectam e influenciam de maneira contínua, de forma que percebemos que a humanidade não é especial ou dominante, mas apenas um pontinho numa rede de conexões que é a vida.” Demais, né?


A boa notícia para a legião de fãs de The Last Of Us é que provavelmente a série vai continuar batendo recordes de audiência e que podemos continuar assistindo sem medo, porque não passa de uma deliciosa ficção. Porém, essa conversa se faz muito necessária porque algo que eu venho batendo na tecla há anos é a mudança climática, e como ela pode agravar situações que a gente nem imagina, e até mesmo, criar novos problemas, como já vem acontecendo. Conta pra mim, o que tudo isso reverbera em você? Vamos trocar!

Wagner Andrade, Menos 1 Lixo
Por:
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