Sobre Berlim, colaboração e ocupação da cidade

Sobre Berlim, colaboração e ocupação da cidade

Publicado em:
17/8/2015
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Acabo de voltar de uma viagem pela Europa a trabalho. Visitei, entre outros países, a Itália e mergulhei fundo na Expo Milano 2015 (já estou preparando uma série de matérias lindas, em vídeo, que em breve você vê por aqui), e depois passei uma semana em Berlim. Não é a primeira vez que visito Berlim. Tinha ido em uma dessas viagens de mochilão com vinte e poucos anos e cumpri todo o roteiro turístico "tem que ir" que inclui: Alexanderplatz, o muro, Portão de Branderburgo, Memorial do Holocausto e por aí vai. Dessa vez optei por fazer exatamente o oposto: passei longe de todos os lugares que tinha visitado antes, e como eu e meu namorado, que foi comigo, temos amigos que moram lá, tivemos uma experiência "local" dessa cidade que muito, mas muito tem a nos oferecer.

  Quando digo muito, é porque de fato Berlim é uma cidade com opções pra todos os gostos, como se diz por aí. Uma cidade inclusiva, do ponto de vista do que é novo, diferente, e com um toque de anarquia no ar. O que mais me impressionou na cidade é como seus moradores pensam e de fato vivem de forma colaborativa. E a colaboração em Berlim vai desde você olhar e se preocupar com o outro, como fazer junto mesmo. Duas cenas ilustram bem essa forma de pensar e agir: na primeira, estava eu deitada no parque com a pressão lá no pé após tomar um remédio de enxaqueca desses bem fortes. Não tinha onde comprar água e tava quente. Meu namorado foi pedir para duas meninas que faziam um picnic, um pouco de água (no copinho do Menos 1 Lixo, claro, que aliás foi super parceiro de viagem!). Elas não só deram, como quando viram que eu tava lá deitada, pálida na canga, trouxeram uma barrinha de cereal, porque acharam que aquilo ia me fazer bem! Era nosso primeiro dia em Berlim e já fiquei com uma impressão bem positiva da cidade.

  Dias depois, era fim de semana, e vimos um grupo de pais e filhos, do lado do apê que alugamos - pelo airbnb e que era todo decorado e feito a mão mesmo, pelo proprietário, um artista plástico mega descolado, mas isso é só mais um detalhe de uma experiência top que vivemos por lá - montando com as mãos uns brinquedos para os pequenos se divertirem. A cena era uma garota que não devia ter mais de 8 anos, com uma furadeira na mão, e com a ajuda da mãe, furava umas peças de madeira para montar o brinquedo. Enquanto isso, outras pintavam o que pareceu ser o complemento do brinquedo, e as outras usavam um cano sanfona (tipo aqueles amarelos que usamos para passar os fios na parede) para fazer telefone sem fio. Na praça, tranquilas, se medo de assalto, assassinato, ou nada do gênero. Esses dois exemplos ilustram em atitudes cotidianas esse comportamento colaborativo. Mas até aí, isso também poderia ser feito aqui, bastaria pais, crianças e pessoas quererem né? Mas e se a gente pegar o exemplo de um aeroporto que foi desativado, o Tempelholf, e transformado num parque com horta comunitária? A ideia é realmente se apropriar do espaço público, porque ele é: público! E fazer com ele o que as pessoas acham que faz sentido. E nesse caso, faz sentido plantar e colher seus alimentos. E montar seu espaço com a sua cara, com espreguiçadeiras, cadeiras e mesinhas, ombrelones. Porque cuidar da horta pode ser legal e aquele lugar também serve de ponto de encontro. Todo mundo ajuda, rega, tem compostagem que pode ser usada para as plantinhas crescerem fortes e de forma orgânica. Já estava encantada com essa ideia, quando soube que além de usar o espaço público em prol das pessoas, os moradores do entorno conseguiram impedir que ali ao lado fosse construído um empreendimento de residências de alto padrão, já que se isso acontecesse, as lojinhas locais acabariam, o processo de gentrificação da área seria acelerado e não, isso não beneficia a maioria. E a maioria lá prevalece!

Só pra terminar, poderia falar da Leila, a biblioteca de objetos (que terá matéria em breve por aqui) ou do OU, Original Unverpackt, o primeiro supermercado sem embalagens do mundo, que eu também visitei, e que você também verá em breve, mas prefiro falar sobre a praça que em um dado momento foi tomada por traficantes. E como a praça é espaço público, os moradores do entorno chegaram pra galera e foram claros: ou vocês saem daqui, ou vamos entregar as fotos que temos de todos para a polícia. O que aconteceu? Praça do povo, e os traficantes, bem, esses eu não sei pra onde foram, mas que ali não é lugar deles, isso não é mais! Já que tomar a praça é um pouco mais complexo na realidade brasileira, que tal começar por olhar pro lado e fazer com as mãos? Isso muda o mundo!

Fe Cortez
Por:
Foto do banner: The Wasted Blog
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