Não é preciso igualdade. Calma, eu explico. A sociedade não necessita apenas de igualdade. É preciso equidade de gênero. Mais do que preciso, na verdade. É urgente! Se você ainda não sabe a diferença dos dois conceitos, eu faço um breve resumo. A igualdade se concentra em tratar todas as pessoas de forma igual. Já a equidade, reconhece que somos diferentes e que é preciso ajustar esse “desequilíbrio”. Isso significa que, embora a igualdade possa garantir tratamento igual para todos, ela não leva em conta as diferenças entre as pessoas, não sendo suficiente para garantir justiça ou igualdade de oportunidade para todos. E é por isso que precisamos de ambos para alcançar um mundo mais justo e socialmente inclusivo. Mas afinal, como as organizações podem fomentar a participação de mulheres em áreas dominadas por homens?
Antes que eu soe como apenas mais um homem falando sobre esse assunto, peço licença para pegar emprestado esse bastão de fala. Para quem não me conhece, estou CEO da Menos1Lixo. Isso mesmo, estou CEO porque não sou CEO. Na verdade, algo que eu nunca revelei é que eu não queria esse lugar. Alguns anos atrás, Fe Cortez, idealizadora do movimento, minha amada e mãe do meu caçula, precisou se afastar da liderança do seu próprio negócio, pois não estava fazendo bem pra ela, queria viver uma jornada mais leve para escrever seu primeiro livro, Homo Integralis, e abrir espaço para a chegada do nosso filho. Ela nem sabia disso há época, mas esse movimento - de certa forma inconsciente - também era para se conectar com a maternidade que viria logo depois. Quem conhece a Fe, sabe que ela, como poucos, tem uma capacidade de materialização que eu nunca vi, logo, eu que ocupava uma posição estratégica de Inovação e novos projetos, acabei assumindo esse posto. Hoje eu ocupo esse lugar, mas quero que ele seja de outra pessoa, e que seja uma mulher. Mesmo que não seja novamente a Fe Cortez.
Muitos, ao lerem esse capítulo de Homo Integralis - e que capítulo! -, interpretam de forma parcial. Todos nós, independente de sexo ou gênero, temos uma polaridade masculina e feminina. E como o mundo ainda é regido por homens, precisamos sim abrir espaço para que mulheres ocupem as posições de poder e decisão, mas também - e fundamentalmente - nós homens precisamos resgatar o poder do feminino que nos habita e integrar essas duas polaridades para alcançar o tal equilíbrio, citado no começo deste artigo. Para novas histórias, precisamos de novas lentes e visões de mundo. Precisamos de mais mulheres em posições estratégicas, e de mais homens com seu feminino desperto.
"Mais mulheres precisam ocupar posições de poder não porque precisamos de equidade de gênero, mas porque o mundo precisa da visão, da inteligência e da energia feminina para lidar com os desafios e a complexidade do século 21."
Talvez essa frase do querido Henrique Katahira, que o vi postar nessa semana, resuma bem o que acredito. Se a hiper valorização do masculino trouxe tanta destruição, está na hora - ou até passou - de resgatar o poder de regeneração do feminino. E isso significa, entre outras coisas, substituir a cultura de dominação pela de cooperação. Nós, homens, precisamos impulsionar essa transformação. Como? Ao contrário do que muitos pensam, são muitos os passos que podemos dar. E é agora. Vem comigo:
Você pode estar pensando “mas isso tudo é tão básico”, e você está certo! Por mais surreal que pareça, ainda se faz importante ressaltar o mínimo. Muitos negócios ainda estão muito longe disso. Confere só esses dados de um estudo da IBGC que a querida Rochana Grossi Freire partilhou comigo. Participaram da análise 337 empresas, que possuem ao todo, 5.424 profissionais atuantes no conselho de administração e na diretoria ao mesmo tempo. Deste número, apenas 773 são mulheres. Só 38,9% têm mulheres na diretoria. Se filtrarmos a pesquisa por mulheres com mais de 50 anos ou mulheres pretas ou indígenas, o buraco fica ainda mais embaixo. Bem embaixo.
"Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou".
Já dizia Albert Einstein. Depois de tanto a sociedade incansavelmente civilizar e encaixotar o potencial humano para servir aos seus sistemas que apagaram o feminino do mundo, valorizando apenas os aspectos masculinos do ser, resta alguma dúvida do desequilíbrio sistêmico causado nos últimos séculos?
Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.