Relato de uma vegetariana em transição

Relato de uma vegetariana em transição

Publicado em:
13/9/2016
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Quem acompanha o Movimento sabe que, eu nunca fui uma pessoa consciente do impacto ambiental das minhas escolhas. Na infância, com "água de rua" no conjunto de favelas da Maré, eu não pensava no recurso excessivamente gasto no banho de mangueira. O mesmo se estendia pro consumo de luz e assim foi como eu cresci. Distante da visão da produção excessiva de lixo e da tão falada sustentabilidade que surgia do outro lado da cidade. Pois bem, eis que surge o Menos 1 Lixo pra mim. Pra contrariar tudo aquilo que eu desacreditava. Eu vi de perto o Movimento crescer e, escrevendo pra ele, inevitavelmente, cresci junto. Não no sentido de evolução, como se eu fosse hoje mais evoluída que as outras pessoas, que mantiveram o pensamento que eu tinha lá atrás. Nada disso. Mas é que eu tive acesso, isso muda tudo! Com o passar do tempo mudei minha relação com o ato de consumir, com o que é falta e o que é excesso, com as outras pessoas, com os recursos naturais, financeiros, afetivos. Entre tantas mudanças, veio aos poucos um novo olhar para  o que me alimenta de verdade. Não só na vida, na alma, na mente, mas também o que vai pro prato. Tá tudo interligado! Começou então um certo incômodo: como comer frango conhecendo um pouco mais sobre o processo que faz ele chegar na minha mesa? Não dá pra sentir vontade. Tava desgostoso comer carne sabendo de todo o impacto ambiental. Era ruim chegar no mercado e ver o desenho da vaca ou do boi, e escolher por ali, a parte que eu comeria. No meio disso tudo vi um post que era o que faltava pra mostrar que, os minutos de degustação, não valiam mais a pena.

  Até aí  tudo bem, era "só" virar vegetariana e pronto. Só que não. Família paterna paraibana e materna mineira, sem tempo nenhum pra cozinhar e com poucas experiências além do feijão, arroz e carne no currículo, com os mesmos hábitos alimentares desde sempre. E com gratidão, com o entendimento sempre relembrado pelos pais que muita gente está passando fome, assim como eles passaram. Foi tudo aos poucos. Nas primeiras visitas, na hora de comer, meu pai ainda me perguntava: "tem certeza que não vai querer uma carninha, filha?".  Agora ele já não oferece mais, respeita, e até manda foto do prato sem carne às segundas O teste mesmo aconteceu no último dia dos pais,  com o almoço em família. Três opções de carne e eu olhando e pensando: meu deus, como eu vou falar pro meu tio, dono da casa, que tá tudo lindo mas não vai rolar boa parte do que tá ali. O tio em questão, não consegue nem sentir cheiro de ovo no bolo, pois foi só o que ele comeu por boa parte da infância. E eu só queria isso, um ovinho. Meu pai percebeu a situação e demos um jeitinho. Sem carne e sem ovinho. Arroz, feijão, angu e couve. Não é que ficou uma delícia? Não senti falta de nada e ainda comecei nos verdinhos. Ah, não contei? Eu não comia nada de legume, verdura ou folhas. Nada! De natural, apenas frutas. Desde então é adaptação. Vamos para o churrasco com os amigos? Vamos! Afinal, tem pão de alho, molho, arroz, abacaxi assado. As risadas, as músicas, as danças, tem sempre muita coisa além da carne. Muitos amigos questionam  se eu não sinto falta, quando na verdade, nem penso nisso. Eu busco e descubro diariamente tantos grãos, sementes, temperos, sabores que eu não fazia ideia. Sempre imaginei um sacrifício gigantesco por parte da galera vegana ou vegetariana, mas não, eu tava errada. Hoje eu saio de casa com mais marmitas na bolsa, mas feliz da vida. Dedico tempo pra cozinhar o que eu quero comer e fica exatamente como eu quero, ou melhor. Parei de gastar um dinheiro que me fazia falta e só me levava a comer mal na rua. Ainda tenho que marcar com uma nutricionista, sim, tenho. Ainda como peixes, sim, como. Eu sinto falta de salame, é, eu sinto. Mas todo o resto que eu sinto é tão maior, tão melhor, me faz tão feliz. Me alimenta. "Você não come pelos animais ou pelo meio ambiente?" Por mim, por eles, por tudo. Eu não sinto vontade."

*Esse texto não é um convite ao vegetarianismo, ainda não me considero como tal. Ele é um mero relato, de uma transição um tanto inesperada, mas possível, na minha vida.*

Talita Gamboa
Por:
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Sobre o movimento

Em 1º de Janeiro de 2015 nascia o Menos 1 Lixo, um desafio pessoal da Fe Cortez, de produzir menos lixo e provar que atitudes individuais somadas constroem um mundo mais sustentável.

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