Peixes: como saber se o que você come está em risco de extinção ou não

Peixes: como saber se o que você come está em risco de extinção ou não

Publicado em:
19/10/2015
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Todos sabem que o peixe é um dos alimentos mais saborosos e saudáveis que se encontram na natureza. Seja de águas rasas (magros) ou profundas (gordos), doces ou salgadas, a maioria das pessoas adora comer um delicioso peixinho! Com muitas propriedades benéficas à saúde, que listamos abaixo, o peixe é tido como uma das melhores opções para uma dieta rica em proteínas, quando se fala de carne, já que a vermelha, como falamos nesse post e no documentário Cowspiracy, é uma das principais causas de desmatamento da Amazônia e emissão de gases de efeito estufa.

Com uma costa de milhares de quilômetros, o brasileiro em geral é um bom consumidor de peixe. Mesmo assim é relapso quanto à procedência e pouco refinado quanto ao tipo de peixe que está colocando na boca. Por falta de conhecimento, poucos conseguem diferenciar as características e o sabor de cada espécie, e acabam levando ‘corvina por cherne’. Pra piorar, quase ninguém tem em mente que a pesca descontrolada (ou ilegal) e o consumo sem critérios levam ao desequilíbrio dos ecossistemas marinhos e, por fim, podem até prejudicar a saúde de quem come este precioso e delicioso alimento.

Quer um exemplo que está em nosso cotidiano? O consumo desenfreado de sushis e sashimis, atualmente em escala mundial, vem exaurindo o estoque de atum nos mares profundos, e o salmão, produzido em cativeiro, e mal conservado, vem apresentando procedências e qualidade das mais duvidosas, levando ao risco de intoxicações e infecções.

Calcula-se que a pesca ilegal no país ultrapasse as 5 milhões de toneladas por ano, enquanto que a pesca legalizada produza cerca 1,5 tonelada em média, numa desproporção que compromete a fauna marinha e os estoques pesqueiros do país. Soma-se a isso à pouca oferta de produtos certificados. Assim, o consumo de peixe no Brasil se revela uma prática econômica não sustentável e altamente nociva quando pensamos em biodiversidade e preservação das espécies.

Para que o seja, a pesca extrativista marinha precisa obedecer a critérios mais rígidos que evitem a sobrepesca de espécies que estão entrando em extinção, a gente fez uma lista abaixo, e com isso garantir o estoque de diferentes espécies peixe em nossa costa. Infelizmente a certificação dos pescados também ainda é muito tímida no país, e a aquicultura (criação de espécies em cativeiro) ainda é praticamente restrita aos peixes de água doce.

Estudiosos e ONGs também apontam uma falha do governo. Através do Ministério da Pesca e Aquicultura, ele atua apenas na sensibilização junto aos pescadores e armadores de pesca, no sentido de tentar controlar a oferta. Mas não produz campanhas de conscientização dos consumidores, visando educar a demanda. O MPA se defende mas, apesar de alguns programas lançados em parceria com outros órgãos do governo, o monitoramento dos estoques, o combate à pesca ilegal, e as restrições no período de defeso (em que se proíbe a pesca de determinadas espécies para fins de reprodução) se mostram insuficientes, e algumas espécies estão com populações cada vez menores.

FAÇA UMA BOA ESCOLHA

Enquanto essas políticas de fiscalização e de promoção do consumo sustentável não são implementadas em larga escala, podemos lançar mão de algumas maneiras de praticar um consumo mais consciente.

Pra começar, na hora da compra, o mais importante é saber quais espécies podemos e quais não podemos de jeito nenhum consumir, a fim de que não desapareçam da natureza num futuro bem próximo. Pra ajudar nisso, a UNIMONTE, de Santos, litoral de São Paulo, lançou um guia pioneiro, que você pode consultar na íntegra também nestes links – Guia de consumo de Pescados 1 e 2.O que significa “consumo sustentável de pescado”?

“Significa consumir apenas as espécies cujos estoques (quantidade de peixes, em número de indivíduos ou peso) estejam em níveis que garantam a sua estabilidade, ou seja, haja quantidade suficiente de adultos em idade reprodutiva para garantir a reposição do estoque pela reprodução e crescimento. De maneira simplificada, significa consumir apenas as espécies que não estejam ameaçadas de extinção”. Uma outra opção é Lista Nacional do IBAMA e da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza). Então vamos lá!

1 – Espécies que NÃO PODEM E NÃO DEVEM SER CONSUMIDAS

  • Entre os peixes comercias famosos, temos: cação-anjo, raia-viola, peixe-serra, surubim, cioba, badejo-tigre e mero.
  1. Obs: 12 espécies de tubarões/raias e 145 espécies de peixes constam no Anexo I do IBAMA como espécies ameaçadas de extinção, com alto risco de desaparecimento na natureza em um futuro próximo.
  2. Obs: Apesar de estar no Anexo II, o mero é a única espécie brasileira protegida e proibida de ser capturada.
  3. Obs: EVITE o famoso filé de viola, pois muitas peixarias comercializam o filé do cação-anjo como se fosse o filé da raia-viola. E ambos estão seriamente ameaçados.

 

2 – Espécies que DEVERIAM SER EVITADAS

  • Entre os peixes comercias famosos, temos: atum, badejo, cherne, corvina, enchova, garoupa, merluza, namorado, pargo, pescadinha-foguete, sardinha-verdadeira, tainha e vermelho.
  • Entre os cações ou tubarões a maioria deveria ser evitada, mas principalmente: tubarão-martelo e mangona.
  1. Obs: Cação e tubarão são dois nomes que designam o mesmo animal.
  2. Obs: Fora as lagostas e camarões, 6 espécies de tubarões e 31 espécies de peixes constam no Anexo II do IBAMA como espécies sobrepescadas (cuja condição de captura é tão elevada que reduz o potencial de desova e as capturas no futuro) ou como espécie ameaçada de sobrepesca.

3 – Espécies LIBERADAS PARA O CONSUMO

  • Entre os peixes comerciais famosos liberados temos: abrótea, agulha, albacora, batata, baúna, bicuda, bijupirá, bonito, caranha, carapeba, castanha, cavala, cavalinha, cocoroca, congro, congro-rosa, dourado, galo, linguado, manjuba, michole, olhete, olho-de-cão, pampo, peixe-espada, pescada, piranjica, piraúna, robalo, sororoca, tira-vira, trilha, xáreu, xerelete e xixarro.

Fonte: Instituto Aqualung   CERTIFICAÇÕES Tendo em mente que entre as mais 1200 espécies de peixes brasileiros, 32 estão sendo pescadas além de sua capacidade de regeneração (entre os crustáceos a proporção é de 10 para 27 espécies), outra boa opção é verificar se o peixe escolhido tem um selo de certificação sustentável, sobretudo ao comprar produtos congelados e/ou enlatados. O selo é outorgado por algumas ONGs que atuam no país. A principal e mais respeitada delas é a britânica MSC, ou Conselho de Manejo Marinho, na sigla em inglês, criada em 1997 pela ONG WWF. Embora mais 20 empresas brasileiras estejam investindo para obtê-los, atualmente apenas três possuem certificação: Noronha Pescados, a Gomes da Costa e a Leal Santos.   PRODUTOS LOCAIS Vale lembrar que os peixes frescos, adquiridos em peixarias que recebem os pescados do dia, devem ser consumidos no máximo em até 24h após a compra. E no caso de restaurantes e mercados a regra é única e clara: só se deve consumir peixes devidamente congelados! A melhor maneira de consumir peixe de forma sustentável é escolher peixes de espécies variadas, e em lugares onde é possível encontrar peixes de origem local. Então vale saber que peixe vem da onde. Lá fora, isso é muito comum, mas aqui infelizmente não.

Um cardápio variado permite um melhor equilíbrio na pesca de diferentes espécies, e a opção por peixes locais evita os danos ambientais de uma cadeia produtiva que implica em logística industrial. Afinal, somente o consumidor, através de suas escolhas, é quem tem o poder de fazer com que os produtos sustentáveis se tornem, de fato, uma realidade. E bom apetite!   BOX - BENEFÍCIOS Os principais benefícios de comer peixe, além de ser uma alimento de fácil digestão, envolve melhorar a memória, a concentração, prevenir doenças cardiovasculares e aumentar as reações anti-inflamatórias do organismo porque o peixe é rico em ômega 3, que é um componente importante para todos estes processos. Além destes benefícios, o peixe também:

  • É fundamental para a formação da pele, cabelos e unhas, pois é riquíssimo em proteínas, aproveitadas quase integralmente pelo organismo;
  • Previne a osteoporose, pois tem boas quantidades de vitamina D e cálcio, que fortalecem os ossos;
  • Combate a anemia, pois é uma boa fonte de ferro e vitamina B12, que são nutrientes importantes para a saúde das células do sangue.

Comer peixe faz bem e, por isso, deve-se consumir peixe pelo menos 2 vezes por semana. A preparação do peixe é também importante para a saúde porque, por exemplo, se for fritar o peixe, ele vai ficar menos saudável porque o peixe frito contém gorduras prejudiciais para o organismo. Desta forma, deve-se dar preferência a peixe grelhado, ensopado ou cozido. Saiba mais aqui.

Fontes: MSC.orgHappy PeixeFriend of the seaUnimonte, Na onda do peixe, BBC Brasil, Instituto Aqualung, MPA.

*Fonte: Cintia Miyaji, bióloga, e uma das responsáveis pelo guia.

Rafael Millon
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