Como superar a crise da percepção

Como superar a crise da percepção

Publicado em:
10/9/2019
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Segundo o físico Fritjof Capra, as crises ecológica, social e econômica não passam de expressões interconectadas de uma só crise: a crise de percepção. O excesso de informações, fake news e os algoritmos nos colocam em bolhas de realidade (ou de irrealidade) onde é cada vez mais difícil ter uma percepção do mundo sem filtros. Para agravar esta situação, a comunicação digital acaba tornando comunicação impessoal e muitas pessoas aproveitam esta brecha para fazer manifestações de ódio, criando medo e separação. O medo faz as pessoas buscarem a separação levando à perda de sensibilidade e empatia com relação a quem não faz parte da mesma tribo.

Se vivemos uma crise de percepção, como fazer para ampliarmos a percepção da realidade e respondermos aos estímulos e eventos de forma adequada? Como ver as coisas da forma que elas realmente são, sem filtros ou preconceitos?

Logicamente, o mecanismo de percepção depende da pessoa que percebe e sempre haverá infinitas realidades. Esse mecanismo depende de órgãos sensoriais que captam e transmitem os estímulos para o sistema nervoso que levam aos cérebros que vão dar um significado ao evento. Sim, cérebros no plural porque a ciência descobriu que temos 3 grandes centros nervosos: na cabeça, no coração e no intestino. Cada um opera distintas inteligências (racional, emocional e visceral) mas acabamos confiando demais na cabeça e negligenciando os outros.

Para afinar o mecanismo de percepção, temos que aprender a perceber não só com a cabeça mas com o coração e com as vísceras. Deu frio na barriga? Sentiu palpitações? Sentiu o coração quentinho? Essas são algumas dicas de como podemos aprender a perceber o mundo de outras formas. Elas são fontes de informação valiosíssimas para tomar decisões, por exemplo.

O cérebro (da cabeça), por sua vez, é formado pelo cérebro reptiliano, sistema límbico e neocórtex. O cérebro reptiliano regula a autopreservação e a sobrevivência. É ele que reage ao medo. O sistema límbico é responsável pelas respostas emocionais e sua regulação e o neocórtex é responsável pela linguagem, pensamento abstrato, movimentos voluntários, resolução de problemas, planejamentos e conclusões lógicas. Segundo a teoria do cérebro trino de Paul MacLean (1970), o cérebro reptiliano reage ao medo muito antes de chegar ao neocórtex. É por isso que o medo faz com que as pessoas reajam de forma irracional. O mecanismo de sobrevivência reage rápido porque não há tempo para analisar e julgar se é lógico ou se faz sentido.

Afiar a percepção somente não é suficiente para acabar com a crise. A percepção e o julgamento (processo de elaboração e juízo de valor) andam de mãos dadas. Neste mundo complexo, ágil e líquido parece não haver mais tempo para sentir, perceber, analisar fatos, colocar-se no lugar do outro, elaborar e fazer juízo de valor antes de tomar qualquer decisão.

O julgamento é um processo que utiliza as informações sensoriais e adiciona na equação, memórias, condicionamentos e pré-conceitos de quem julga, podendo criar atalhos mentais que não são necessariamente verdadeiros. Práticas contemplativas como a meditação vipassana (que significa ver as coisas como realmente são), taichi e yoga são ferramentas essenciais para adquirir clareza mental a partir de um lugar de relaxamento e não de reatividade.

Não é a toa que crianças e adolescentes como a jovem ativista sueca Greta Thunberg estão liderando os movimentos contra a crise climática. Eles têm muito menos condicionamentos, pré-conceitos e programação social e têm uma percepção muito mais aguçada que nós adultos.

Se você pudesse andar por sua cidade e tomar emprestado os olhos, a inocência e a curiosidade de uma criança, como você a perceberia? Você acharia normal ter tantas pessoas morando na rua, praças sujas ou rios poluídos? O que você faria se pudesse sentir a dor da sua cidade e percebesse que na verdade, estamos em um estado de emergência e que todos os recursos e tecnologias estão disponíveis para resolver os problemas do planeta?

Costumo dizer que a humanidade está passando por um novo Iluminismo onde aprenderemos a afinar a nossa percepção utilizando o melhor das inteligências racional, emocional e visceral e tomando decisões com clareza mental e sabedoria. Desta maneira, teremos condições de perceber melhor o mundo e ver as coisas com olhos de principiante, colaborando e agindo de forma a criar as condições para regenerar a economia, a sociedade e o planeta.


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Este artigo é de autoria de Henrique Katahira da cuidadoria. Conheça nosso site: www.cuidadoria.com

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